domingo, 23 de dezembro de 2007

Thomas Crown Affair - Returning the Painting

Obras valiosas de Portinari e Picasso são roubadas do MASP

21/12/2007 - 13h37
Roubo no Masp expõe condições "nefastas" de segurança, diz jornal
THOMAS PAPPON
da BBC Brasil

Uma reportagem do jornal espanhol "El Mundo" afirma que o furto dos quadros de Picasso e Portinari do Masp (Museu de Arte de São Paulo) expõe condições de segurança "nefastas" nos museus latino-americanos.

A reportagem repercute a ação criminosa em que ladrões levaram do museu as pinturas "Retrato de Suzanne Bloch", da chamada fase azul de Pablo Picasso, e "O lavrador de café", de Portinari.

Para o "El Mundo", o roubo "volta a colocar em evidência as nefastas condições de segurança nos museus latino-americanos, em especial os brasileiros".

"Uma questão que é, em realidade, extensão do grave problema que representam no país as ações criminosas."

A reportagem lembra que em outubro o Masp já havia sido alvo de uma tentativa de roubo. Em novembro, uma coleção de moedas raras do Museu do Ipiranga foi roubada, sublinha o jornal.

Outros jornais

O episódio também foi parar nas páginas de outros jornais europeus e sul-americanos.

O argentino "La Nación" diz que "todos os olhares estão postos no sistema de segurança do museu, sobre cujo funcionamento houve contradições nos primeiros interrogatórios dos vigilantes".

"O Masp, um impressionante edifício modernista inaugurado em 1968, está localizado em pleno centro financeiro da cidade, na avenida Paulista, uma das áreas mais vigiadas do país", diz o diário argentino.

Já o britânico "The Guardian" destaca que a ação foi planejada "em detalhes de minuto", e que a polícia não descarta a possibilidade de ter havido colaboração de pessoas do próprio museu.


Link da reportagem do jornal GLOBO :

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM768591-7823-VIDEO+MOSTRA+ACAO+DOS+LADROES+DENTRO+DO+MASP,00.html

O que está no youtube :



sábado, 22 de dezembro de 2007

Sepúlveda : Personagem de "Instantes"



Envelhecem aqueles que não entendem as atmosferas opostas e que podem ser tão parecidas. Basta que as veja com outros olhos. E se permitir mais.
Eu busco amigos. Pois, acho que a força da vida está na amizade.
E o fim da vida é algo tão depressivo. Você me entende ?
O Verde, sempre na esperança. Eu sou verde. E afim de matar pela loucura que te proponho. Aniquilar a esperança é anular-se no tempo. Só achará o verde, o imaturo.
Eis um terreno para ser cultivado. Um plantio novo em terras virgens. E "nada é por acaso" ( Exupéry ). Isso define qualquer pessoa que conheço. Isto pode ser o reflexo no espelho. Você projetar-se na imagem do outro. No meu caso, não projeto, atuo. Porque eu sou real, você é real. O resto é sonho. Saiba de uma coisa: Não desisto jamais. Só convido para um xadrez quem pode duelar. E viver é uma constante batalha. Lembre-se disto.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Argentino compra quadro de Tarsila por US$1.5 MM

Cinema brasileiro é alvo de investidores
PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Luz, câmera e...ações! Antes marginalizado e fora dos grandes circuitos internacionais, o cinema latino-americano atrai investidores dispostos não a ser beneméritos da cultura mas a ganhar dinheiro com o setor.

O empresário argentino Eduardo Constantini Filho, 31 --que está no Brasil para acompanhar a estréia de "Tropa de Elite", do diretor José Padilha, no qual investiu US$ 2 milhões--, é um exemplo: constituiu um fundo de US$ 25 milhões para aportar recursos em projetos do setor.

O capital, disse, permite investir em 15 filmes ao longo de cinco anos. Mas, diante de suas pretensões, o dinheiro é pouco. Por isso, o empresário busca um sócio brasileiro que lhe possibilite alavancar o fundo e, ao menos tempo, captar bons roteiros e projetos consistentes de diretores brasileiros.

O modelo já é adotado por sua empresa, a TLAFC (The Latin American Film Company), nos EUA. Lá, está associado aos irmãos Bob e Harvey Weinstein, ex-donos e fundadores da Miramax. Associação semelhante tem no México.

Falta, porém, encontrar um sócio no país, diz Constantini. "O Brasil é um mercado grande e promissor, com uma tradição de bons diretores", afirma.

Constantini apostou suas mais altas fichas no longa "Tropa de Elite", que abriu ontem o Festival do Rio e que entra em circuito comercial em 12 de outubro --depois de ter virado produto fácil nos camelôs do Rio e de São Paulo.

Do mesmo diretor do documentário "Ônibus 174", "Tropa de Elite" recebeu o maior aporte de toda a história da TLAFC, sinal de confiança no projeto, segundo o empresário.

Oscar

"Estamos trabalhando para distribuir o filme no exterior e, oxalá, colocá-lo na disputa do Oscar de filme estrangeiro. Harvey Weinstein veio ao Brasil para o festival com o objetivo de promover o filme e ajudar numa possível indicação ao Oscar. Ele está muito empolgado com o projeto", disse.

O investidor espera 500 mil espectadores para "Tropa de Elite", que já tem 150 cópias distribuídas no país.
O fundo, conta o empresário, funciona em duas mãos: procura filmes na América Latina para investir e distribuir no mundo e busca produções fora do continente com potencial para serem exibidas no país.

É o caso de "A Rainha", que recebeu US$ 700 mil do fundo e se credenciou a concorrer a seis estatuetas do Oscar. Só na América Latina, foi visto por mais de 1 milhão de pessoas.

Constantini começou a trabalhar com o pai no mercado financeiro. Foi diretor da Consultatio Asset Management de 1995 a 2000. Naquele ano, começou a estudar cinema. Dois anos depois, passou a diretor do museu Malba, em Buenos Aires, que abriga a coleção de arte de sua família.

Constantini pai é um dos mais importante colecionadores de arte da América Latina, com interesse particular na brasileira. Comprou em um leilão, "Abaporu", de Tarsila do Amaral, por cerca de US$ 1,5 milhão.

Francis Bacon (1909-1992)

Um amigo meu assustou quando disse que Francis viveu mais de 80 anos. É verdade. Certa vez, assisti um documentário sobre ele na TV Cultura. Continha uma entrevista, por sinal, muito engraçada. Ele completamente chapado, devido ao àlcool que sempre consumiu. Percebia-se que não estava sóbrio, porém, extremamente interessante seus diálogos. Ler e ouvir sobre sua arte e vida é impactante, hipnótico, magnífico. Sempre um aprendizado. Lembro de ter visitado - tempos atrás - a Galeria Fortes Vilaça. Encontrei várias telas do F.Bacon. O exagero das tintas, eram telas muito pesadas. A grossura das pinceladas, as cores, os contornos, a percepção cromática de luz, tons escuros, aquilo gerou em mim tamanhas impressões sobre o artista. Lembrou vários trabalhos do Iberê Camargo. Artista que também fora influênciado por F.Bacon. Eu gosto de telas pesadas, carregadas, aquelas marcas de espátulas proporcinando outro tipo de realismo. Seus temas. Li em um livro de arte que a primeira exposição de Bacon gerou tremendo escândalo na Europa. Exatamente porque os artistas vinham dialogando muito sobre as guerras, a matança de pessoas e crianças no continente Europeu. Bacon soube dialogar com estas experiências. A arte tem este sensorial apurado. Este viés ou diálogo com temas relevantes. Jackson Pollock era outro artista de obras monumentais, carregadas de camadas de tintas. E Pollock também tinha estas experiências com bebidas. Por conta do vício. Não sei se poderei dizer que isto influênciou toda sua obra. Creio que sim. Bacon era maluco e genial. Sempre acreditei que artistas, no caso do desenho e pintura, ou nascem com este dom ou tem algo espiritual. Aquilo que vai além da técnica, que supera ou independe dela. Bacon não fez faculdade de artes. Entretanto, foi um gênio. Sendo magnífico com sua arte e estilo. Sua maneira de fazer as pessoas encantarem ou não com teu trabalho. Apesar que ele nunca importou com as opniões e/ou críticas. Pintava seus quadros e, depois de concluí-los, jamais voltava a trabalhar neles. Nem sequer tinha interesse em vê-los. Bacon é um dos meus artistas preferidos. Sempre será.

Encontrei estas pérolas no Youtube. Alguns vídeos foram apresentados em programas televisivos no Brasil. É uma bela mostra do trabalho deste artista plástico.



On Life, Death, and Gambling















O estúdio do Francis era uma bagunça. Dá pra ver os "baldes" de tinta. Que tanto caracterizou sua pintura e traços "pesados" e "carregados". Extremamente marcante e característico da sua obra genial.



quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Amores Constantes





A tua língua ácida é mais
interessante quando passeia
pelo meu corpo
E os teus lábios

trêmulos

Sua temperatura esquenta

debaixo dos lençóis brancos
E quando amanhece,

o que restam
são manchas,
desenhos,
migalhas esquecidas
pelos cantos

A poeira no sofá ainda

desenha sua silhueta
Assim como,
suas
pegadas deixadas pelas
plantas dos pés

Na varanda,

maritacas musicam
alguma coisa
E a porta

semi-aberta

Um relógio toca sete horas

da manhã
[Despertador de mim

mesmo ]

As gotas do chuveiro

pingando alto sobre
os azulejos
E sua partida

breve

Sinto o traveseiro ainda

quente
alguma lembrança
E as cinzas deixadas

no cinzeiro

O copo manchado de

vinho tinto

Queria que fosse embora
Para sentir o gosto da despedida

Agora, só me resta

pensar no amanhã
Quando a porta

novamente abrirá
E você se acomodará

entre as coisas
deixadas
no ontém

Não desespere

porque ainda é dia
e a noite logo virá


Metamorfoses ...



Incrível, como Kafka continua rendendo. Isto é, o romance "A Metamorfose" ainda é um livro extremamente contemporâneo e sofisticado. Esta animação que postei acima tanto mostra o universo feminino, recheado de estéticas e padrões de beleza, quanto temas mais profundos como identidade, sexualidade e aceitação. Atualmente, tenho visto muitos jovens sofrerem com estas passagens da adolescência para vida adulta. Principalmente, a questão da aceitação (corpo, vóz, aparência, conteúdo e sexualidade). E o que mais me assusta não é o fato do jovem aceitar a si mesmo, e sim, como recebem as reações alheias. Ou seja, parece que eles dão muito mais importância às opniões. Como os outros irão aceitá-los. Os que sofrem mais são aqueles que ainda não tem afirmação, vivem num eterno universo de questionamentos, perguntas e poucas respostas. As dúvidas são interessantes para propor pensamentos. E justificar o fato da busca pelas melhores respostas. Entretanto, creio que a personalidade bem construída irá dar uma base sólida para as mudanças vindouras. Eu tenho tido muito mais amigos na faixa dos 30 aos 50 anos. E como tenho enriquecido com isto. Parece-me que esta fase dos 30 aos 50 seja a mais interessante. Eu acabei de entrar na faixa dos 30 e poucos anos. E tem sido ótima. Considero muito melhor que as anteriores. Quando eu tinha vinte e poucos anos, gostava de conversar com pessoas entre 20 e 30 anos de idade. Parece que a cada nova década que enfrento, somo pessoas com mais de 10 anos do que eu tenho. Ou seja, entro num novo ciclo. Se hoje tenho 33 anos, meus melhores amigos estão na faixa dos 35 aos 45 anos de idade. Claro que tenho ótimas amizades com pessoas de vinte e poucos anos. Todas as fases são interessantes para o indivíduo. E amizade é um tanto complexo para que eu possa definir. Pois, existem inúmeros fatores em jogo. Mas afirmo com convicção de que aprendo muito mais e vivo com mais intensidade agora. Sem medo. Sem dúvidas eternas. Parece que entramos numa nova fase do jogo. Como se tivéssemos montados em cima de uma máquina possante e a velocidade pouco importa. Antes, parecia estar montado em uma máquina que corria velozmente mas era frágil. A idade é algo extremamente interessante. A fase dos trinta aos quarenta anos de idade tem sido surpreendente. Tem sido reveladora. Ao mesmo tempo que é romântica, é sofisticada, translúcida, perfumada, sedutora, sábia. Ela vem com toda sapiência e te envolve num manto poderosíssimo. Você sabe o que quer, onde quer estar, o tempo que quer ficar e para onde mira sua pontaria. É extremamente orgástica, criadora e criativa, artística, poética, rima em versos livres, não te prende, te joga em voo livre e você sabe que suas asas te suportarão. Este suporte é magnífico. E, principalmente, a vontade de realizar. Você sente a cobrança, logicamente. Mas as realizações são recheadas de conteúdos, significados, parece que temos mais expressão, mais sentido. Tudo é melhor. Quero vivenciar e aproveitar os momentos. Daqui 7 anos irei entrar na casa dos 40. Outra fase. Outra metamorfose. Creio que será belo. Não estou nem aí para calvícies, rugas, aparências plásticas, cabelos brancos, óculos mais fortes por conta da miopia, roupas novas para parecer mais jovem. Creio que com meus 40 anos irei andar de preto, com cabelos compridos até os ombros, óculos escuros e pesados, sem relógios de pulso, livros para presentear amigos (sempre), retórica para enxugar as falas, um bom aparelho portátil de som ( tocando alguma coisa erudita, jazzística, de repente, um blues ou um som industrial moderno) para destrair das maluquices modernosas que infectam a atmosfera clássica da paisagem, um par de sapatos velhos desbotados, alguma tatuagem que marcará alguma fase qualquer futura, e a cabeça plugada na arte. De repente, um bar para sentar e jogar conversas foras, sem preocupar-se com o tempo que avança. Distrair com as atmosferas, as temperaturas, os cheiros, o tempo oriental e a sabedoria zen. Um mutante ? Um ser humano mais velho e feliz ? A infelicidade existe porque permitimos. Umberto Eco acaba de publicar um livro sobre a feiura (História Da Feiura) que é lindo. É antítese. Um livro belo, sobre artes belas de figuras "feias". O conceito é o mais importante. E o gosto é algo tão pessoal. Afinal, como uma amiga minha disse certa vez : "A beleza está nos olhos de quem vê". Eu respeito a idade, todas elas tem seus momentos. Respeito a criança, o jovem, o adulto e a velhice. Todas são lindas. Tem sua poesia e musicalidade intrínseca. A personalidade ainda é um grande mistério. Descobrir a si mesmo, compreender o outro, aceitar sem preconceito o mundo que te cerca. É um exercício complexo e exige tempo. Entretanto, só mudamos quando compreendemos verdadeiramente os significados. Não só ficar nas aparências. E sim, ver o âmago, o seio da questão.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Só Para Fumantes : conto do peruano Ramón.




Eu fico imaginando como deve ser a experiência de um "não fumante" ao ler este livro do Ramón. Exatamente, o primeiro conto do livro. É um conto grande. Um contão. Como daqueles da Clarice : "A Paixão Segundo G.H". E não fosse apenas pela primeira pessoa na narrativa, seguindo uma estrutura quase similar de um monólogo. A história deste primeiro conto da série, de tão mórbida, parece alguém beirando o abismo. É penetrante e vai te cativando à cada página. O personagem jovem vai envelhecendo, ficando doente. Você ri de tão absurda tal história do fumante. E vamos acostumando em ler sobre este hábito cotidiano do personagem - de tragar fumaça e dar baforadas. A história conta a vida de um viciado em cigarros e escritor, que ganha dinheiro ocasionalmente por conta dos livros que vai vendendo e dos trabalhos arranjados como bicos. Ele, sempre beirando a miséria. Trocando moedinhas por cigarros. Alimentando pouco pela falta de condições. A ponto de adquirir úlceras no estômago. O sujeito além de ter fumado tanto na vida, mas tantos tipos de cigarros, com suas falas acaba por dar uma aula sobre tabacos e marcas. Ele viaja pelas periferias da América Latina até a França. E vai contando toda "sociologia" do cigarro, dos tipos de fumantes, das marcas e preços. Fala o tempo todo de suas paixões. Inclusive e principalmente : o cigarro e a literatura. E ficamos sempre impregnados por estas fumaças e baforadas do conto. A narrativa é tão admirável, ora detalhista ora rápida, como quanto ao prazer de fumar (para os fumantes). E tal narrativa segue o rítmo da ansiedade de um fumante. Seu desespero na falta de cigarros. Suas teses perante os hábitos. Suas esquisitices. Seu modo de ser e de encarar a vida. E sua calmaria após o alívio de umas tragadas. Não é um personagem psicótico. Não seria um "prato cheio para psiquiatria" elaborar uma dialética sobre teorias da psicanálise ao analisar este personagem. Pois, vemos inúmeras pessoas ao nosso cotidiano que tem esta paixão pelo hábito de fumar. E que não é feio e proibitivo, como as convenções e tratados atuais sugerem. O signo mais interessante do conto, talvez, seja este ritual do cigarro (fumar), das bebidas, do café. O universo dele, introspectivo e suas obcessões. Seus trajetos sempre parecidos. De onde vem aquelas obcessões ? Ele é tão prático com a vida. De uma simplicidade. Ele está focado nas suas ambições mínimas e nem está aí pro mundo ao ponto de nos invejar. Cria um estilo de vida. Como ele vive em função das miudezas da vida, das coisas mínimas. E viciado em cigarros. Como se isto fosse a maior alegria para um dia inteiro de tormentos e preocupações. E basta. Esta vida me lembrou do próprio Fernando Pessoa nas suas caminhadas breves pela baixa Lisboa. Era outro fumante veterano. Porém, Fernando Pessoa era real. Este do conto é ficção. Outras vezes, lembra o personagem Bartleby criado por Herman Melville. Um sujeito que praticamente vivia num escritório. E como a obra de Ramón parece um tanto biográfica. A história desenvolve um universo de um sujeito que não é nem um pouco semelhante com nossos modelos de heróis-capitalistas. Que sugere uma contra-cultura. O oposto. Eu gosto disto, este lado B.Os demais contos falam sobre a família classe média, de tias. E outros até refletem situações vivenciadas pelo próprio autor. É uma delícia de ler este livro. E realçar sobre o trabalho impecável de tradução da CosacNaify e do projeto gráfico do livro, que é um charme à parte. Antes, só líamos Ramón direto do espanhol. Não existiam traduções. Ramón morreu em 1994, depois de receber o prêmio Juan Rulfo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ingmar Bergman - Cries and Whispers



Eis um belíssimo trabalho de Bergman. Somente superado (pela estética e temática) pelo também estupendo "Fanny & Alexander". Em "Gritos e Sussurros", nesta sequência acima copiada do youtube, podemos ver a agonia da personagem Ágnes. Brilhantemente interpretado pela atriz Harriet Anderson. Como o tema revela, é um filme que ilustra um painel desta impotência humana diante da doença e morte. E neste exílio familiar (por conta da doença de uma das irmãs, da reclusão forçada pelos padrões sociais e da moral protestante), o filme vai contando uma história que é o caminho da salvação. Ou não. O filme é recheado de uma atmosfera onírica, de cores brancas, VERMELHAS e pretas. De uma fotografia penetrante e bela. Um filme pra ser visto incontáveis vezes.

Edward Hopper


Edward Hopper foi um dos maiores pintores realistas do século XX. Realista imaginativo, foi bastante influênciado pelos estudos psicológicos de Freud e teorias intuicionistas de Bergson. Trabalhos que buscavam uma compreensão subjetiva do homem e dos problemas cotidianos da vida moderna. Eu gosto dos temas do Hopper : os ambientes urbanos sempre iluminados por uma luz um pouco estranha, a melancolia, a solidão. Infelizmente, não tenho dinheiro para comprar obras do Hopper. Porém, fica aqui um registro de um sonho de consumo. Afinal, sonhar não é proibido. Por isto, existem os livros de arte. Que é infinitamente mais acessível do que uma tela de um artista famoso. Eu não acho caro os livros de arte. A não ser os importados que ficam com preços elevados por conta das tarifas de importação e conversões de moedas. Algum tempo atrás li algo interessante do Russell sobre "Governo" e "Pessoas Ricas". Ele escreveu que "o conhecimento necessário só poderá existir se os governos e os milionários dedicarem-se à sua descoberta e difusão". Por isto existem os mecenas. Geralmente, são pessoas muito ricas e dotadas de muita cultura e conhecimento. Sou a favor da democracia do conhecimento. Afinal, como afirmou o futurólogo Alvim Toffler, de que o século XXI é o período do conhecimento, a entrada na terceira onda. E conhecimento é transformar a informação em sabedoria. E aplicar esta sabedoria em diferentes campos das ciências e das artes. Seja pelo estudo, entendimento ou aplicação disto. Para o conhecimento, não existem limites.

Vídeo de conclusão de curso : CosacNaify

Encontrei este vídeo no youtube. Tem uma descrição como sendo um trabalho de conclusão de curso. É belo. Eu sou fã da editora Cosac e já cheguei a ter insônia com alguns lançamentos (Esperar pela chegada de alguns títulos nas livrarias). Vale a pena ver o vídeo.

Aqui :



Site da editora --> http://www.cosacnaify.com.br/

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Oswaldo Goeldi

"Solitário", Xilogravura, 1950
http://www.centrovirtualgoeldi.com/img_bd/000176_G.jpg


"Pesadelo 2", Nanquim, 1917
http://www.centrovirtualgoeldi.com/img_bd/000442_G.jpg


Oswaldo Goeldi

O brasileiro Goeldi foi um grande Ilustrador, desenhista e gravador. Nascido no Rio De Janeiro, participou de importantes exposições, como na 25a. Bienal de Veneza. Na primeira Bienal Internacional de São Paulo, Goeldi ganhou um importante prêmio de Gravura. Suas obras já participaram de uma centena de exposições no Brasil, França, Suíça, Espanha e outros países.

Atualmente, ando estudando desenho (lápis carvão, nanquim e aquarelas), e tenho observado cada vez mais o trabalho de Goeldi. Desde que conheci este desenhista e ilustrador, jamais deixei de observar sua trajetória. Eu acredito que sua arte seja conceitual, é conceitual. Atualmente, comprei um livro de entrevistas com o artista Francis Bacon ("Entrevistas Com Francis Bacon", ed. Cosac Naify) e que não paro de ler. Uma das coisas que Bacon comenta é sobre o trajeto das tuas pinturas. Que quase sempre eram acontecimentos. Isto é, o trajeto da tinta e dos traços pareciam ser acidentais. E desta arte "não pensada", e sim, "ocasional", ele daria grande importância na sua trajetória artística. Talvez, posso imaginar o quanto Bacon e Goeldi poderiam ter sugerido coisas entre seus trabalhos caso fossem amigos. São trabalhos muito diferentes. Mas tem uma universalidade. Como na fase dos pesadelos que Goeldi tentava retratar nas suas ilustrações. E Bacon fazia algo também muito diferente com sua perseguição por retratar o Humano de maneira tão forte e tão diferente. São artistas que admiro, que me faz pensar sobre a capacidade da arte e do quanto ela pode transformar a cultura ao qual ela também faz parte.

Informações :

http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswaldo_Goeldi

http://www.centrovirtualgoeldi.com/default.aspx

tArAnTuLa



"Lullaby"

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

3o. Prêmio Bravo! Prime De Cultura

Eu havia prometido algum tempo atrás publicar esta lista. Com toda correria comum desta época do ano, os dias passaram. Porém, resolvi publicar a conhecida lista. Ninguém esperava a morte de Paulo Autran. Fica aqui meu respeito e admiração por este ator e pessoa sublime. Quanto ao livro "A Máquina De Ser" do João Gilberto Noll, estou relendo. É um livro de contos admirável e contagiante. Também estou relendo "De Novo Nada", do poeta Paulo Ferraz. Este livro de poesias concorreu ao prêmio "Bravo! Prime De Cultura". É um belo livro, cuja poesia estonteante e veloz me faz mergulhar nesta obra inúmeras vezes. Afinal, como o poeta escreve "nossa mudez é absoluta", assim sinto-me diante do mundo. Na eterna caverna de Platão que interrompemos, ou o abismo que saltamos mesmo sem escolher asas apropriadas para voar. Afinal, a arte propõe tantas possibilidades de sentir o mundo. O melhor de tudo é que ainda conseguimos sentir.


Emocionante!

O prêmio vai para...
Confira os artistas e os colaboradores culturais que receberam a estatueta do 3o Prêmio Bravo! Prime de Cultura, em cada uma das áreas:

  • Artes Plásticas : Mundus Admirabilis - Regina Silveira
  • Teatro Gaivota : Tema para um Conto Curto - Enrique Diaz
  • Literatura : A Máquina de Ser - João Gilberto Noll
  • Dança : Pequenas Frestas de Ficção sobre Realidade Insistente - Alejandro Ahmed
  • Cinema : O Céu de Suely - Karim Aïnouz
  • Música Erudita/CDPiano : Transcriptions - Ira Levin
  • Música Popular/CD : 1.000 Trutas 1.000 Tretas - Racionais MC'S
  • Música/Show : Angela Ro Ro no Sesc - Angela Ro Ro
  • Personalidade cultural - Pedro Herz
  • Melhor programação cultural :Sesc São Paulo - Danilo Santos de Miranda
  • Artista prime do ano -Paulo Autran

domingo, 25 de novembro de 2007

Aos Queridos, A Cidade.





Aos queridos, a cidade.


Vejo ao meu redor tanto racionamento de espaços. É como viver aprisionado. E o que é pior, ter esta sensação de estar sendo vigiado o tempo todo. Me falta vontade de contemplar o horizonte. Fisicamente impossibilitado diante de arranha-céus. Exatamente, porque este lugar não permite um olhar além. A falta de luz, de cores, tudo cinza e concreto. As manchas, o ar seco, a luz opaca do sol. Isto entristece. Me entristece a contra-vontade de todos. De aceitar esta realidade. Ser conivente com algo que perdeu o controle. Eu não perdi minhas esperanças só porque não sinto mais os aromas das flores. Eu só queria dar uma bela volta alguns anos atrás. Ir para um outro lugar por uns instantes. Ou, viajar para o futuro. De repente. Aqui e lá. Tanto faz ? Mentira!

by:HA.

sábado, 24 de novembro de 2007

ARCH ENEMY



Banda cria do Carcass. Fundada por ex-integrantes do Carcass. Será que a "Sandy" aguenta um show destes ? Esta guria (Angela, loira gata, alemã) is the fucking hardcore voice. Good look!

sábado, 10 de novembro de 2007

Instante 3 : Anatomia dos corpos.



"ANATOMIA DOS CORPOS"

"Deixe-me olhar para os teus olhos. Ver o que eles tentam focar. As pupilas movimentando-se. Os cílios se tocando quando as pálpebras se apertam. Os músculos do rosto contraíndo. O tocar dos lábios. Você consegue olhar alguém e sentir a temperatura da outra pessoa ? Seu corpo vai cedendo ao outro. Como um chamado. Você consegue perceber estas coisas ? E se percebe, você corresponde ? Quando alguém te deseja e você cede ao desejo, o que você faz ? Deixa os corpos se tocarem, sente o pulsar do outro, os olhos vão se mirando, você vai aproximando ... aproximando... De repente, está junta de alguém. E seus lábios se tocam. Você sente o gosto alheio. As línguas tentam se encontrar e você deixa. E degusta o sabor do outro. As peles se aproximam, se encostam. Você começa a sentir mais do outro e começa a doar mais : Dos toques, das falas, dos gestos. Seus corpos juntos parecem querer falar mais sobre vocês do que sua consciência. Então, começam a esquecer das responsabilidades. A consciência vai dando vazão pras razões do corpo. Pros quereres do corpo. Vem o desejo. O desejo de ir mais longe. E você confia. Confia em si mesma. Não está interessada em saber nada mais do outro. Apenas, vivenciar este instante. Dar margem pras suas fantasias e desejos. Sua pele arrepia e sobe um ligeiro calafrio pela sua espinha. Você quer ir mais longe nesta experiência. Você quer mais do outro. O beijo te enche de calor e expectativas. Os toques dele. E teus seios ficam salientes, sua mucosa começa a lubrificar-se. Como se a natureza tomasse conta de você. Como se você fosse um animal, em plena primavera, buscando acasalamento para procriar a espécie. E como animal, acredita que fez a melhor escolha. Saiu numa noite de lua cheia à procura de alguém. Bailou durante a noite pelos refúgios da cidade : boates, bares e casas noturnas. Bebeu suas bebidas prediletas, fumou seus cigarros, foi ao toilette borrifar mais um bocado de perfume. Até que ele apareceu. Vocês escolheram aleatoriamente. E sabe por quê ? Porque não tem hora para fazer amor. Não tem dia para encontrar o teu parceiro. No amor, não se marcam compromissos. Eles acontecem. Porque é a linguagem do teu corpo. Teu consciente apenas dá algumas coordenadas. O resto, é instinto. É instinto o que você sente quando seu corpo treme, sua pele arrepia, seus cabelos parecem mais densos. Você sente como tivesse um poder sobre si. Quer ir pra luta. Pra troca entre os corpos. Ir mais adiante nestas emoções sentidas. O beijo é o primeiro sinal de que o outro corresponde com suas expectativas. É mais do que a senha para jogar. É o start. E você comemora cada segundo, cada minuto, porque está amando. Não importa se está amando somente naquele minuto ou momento. Apenas, estar ali para saber aproveitar o momento. E se a intensidade for maior do que imagina, conseguirá até derrubar uma lágrima, tamanha ansiedade de prazeres que fluem do teu corpo. E você só irá parar quando todas as suas necessidades forem atendidas. Isto é, nem todas. E quando você achar que deverá transar, você vai transar. E irá ter vários orgasmos. E o gozo final, de ambos, será o ápice do momento. O auge do acontecimento. Então, você nem pensa em nada. Nem imagina que acabou. Porque só acaba quando o jogo termina. Quando um dos dois decide partir. E você percebe que está viva! Que é feliz. E isto é o poder da vida. Nunca se esqueça disto : “jovens demais para morrer”, “jovens demais para viver”. Se existe apenas uma vida, então, viva seus momentos intensamente. Sem arrependimentos e culpas."

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Madonna - BMW

Queria tanto fazer isto com a popstar. Mas, roubaram a idéia. Paciência. Fica pruma outra encarnação. (risos).

sábado, 27 de outubro de 2007

“Excess of sorrow laughs. Excess of joy weeps”
“The cut worm forgives the plow”.
WILLIAM BLAKE, “Proverbs of Hell”

O Sentido do Possível.

Poesia de Adília Lopes (portuguesa e bem louquinha). Em "O Sentido do Possível" ela meio que nos ajuda a entender esta questão, de como lidar com o elogio, o talento.
É assim que sinto-me às vezes. Como lidar com o elogio. Ainda vou mais longe, como lidar com o ego do outro. O que mais me estranha no meio artístico é lidar com o ego das pessoas. Não sei porque as pessoas insistem em colocar o EGO gigantesco na frente das coisas. Para piorá-las. Por isto que eu gosto destes diretores que destrõem a imagem do outro, para criar o personagem. Assim como na música, na poesia. Existe um duelo difícil para chegar próximo da perfeição. E para isto é necessário, muitas vezes, esquecer o passado, esquecer os vícios, esquecer os elogios. Voltar-se para a simplicidade, a humildade. Quem sabe, não anuncia, mostra. Adeus, meu ego inflado. Sou um ser desapegado de egos. E sou feliz. Umberto.



O SENTIDO DO POSSÍVEL
(Adília Lopes)


De uma vez que tocou o Para Elisa
uma pessoa que estimava deu-lhe os parabéns
que posso fazer senão tocar cada vez melhor
o Para Elisa?
(o mundo ou pelo menos eu tendemos para a perfeição )
mas uns dias tocava pior
e outros dias não tocava tão bem
e não havia uma ordem naquilo
não era sempre à quinta vez
que tocava quase tão bem como daquela vez
o Para Elisa
nem era sempre à quinta-feira
ou quando almoçava brócolos com molho branco
que fazer depois de ter tocado não tão bem
como daquela vez o Para Elisa?
podia pedir desculpa aos vizinhos
(estava sozinha em casa
só eles podiam queixar)
( quem lhe tinha dado os parabéns
tinha deixado de lhe dar os parabéns )
podia beber chocolate quente para se consolar
ou tomar comprimidos para dormir
ou tomar comprimidos para dormir
com chocolate quente para dormir a consolar-se
com o queixo puxou a tampa do piano
e deixou-a cair sobre os dedos
não chorou chupou os dedos
e foi pôr Hirudoid e ligaduras com carinho
devia evitar o Para Elisa
porque o Para Elisa fazia-lhe mal
( fazer hematomas é fazer mal )
o Para Elisa devia ter um rótulo
perigo de morte uma caveira um x uma faísca
se tivesse sabido não tinha tocado pela primeira vez
o Para Elisa
ou tinha tocado sempre não muito bem
que posso fazer senão continuar a tocar não muito bem o Para Elisa?
mas quem lhe tinha deixado de dar os parabéns
deixou de lhe dar os bons dias

Maquiagem

é uma palavra pontuda !

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Marilyn Manson no VMB 07

Me matem um bode já. Por favor. A Sandy anunciando o Manson ? Que é isto minha gente. Étranger. Elle est Bizarre.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Apodiforme





"Apodiforme"

negro protesto
preto manifes
to
cinza car
bono
de pardal
metal em
brasa
como ácidos organicos
viram carcás de
porcelana escura
como pósteras visões
matinais ene
grecidas
brotando oveiros
encobertos de
plumas melan
cólicas
escrevendo breviários
ano
nimos de
histórias
inenarráveis
inertes ao
som de
canhonaços
(voaram livres)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cotovia (Manuel Bandeira)

“Cotovia”

Alô, cotovia !
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixastes ?

- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe ...
Voltei, te trouxe a alegria.

- Muito contas, cotovia !
E que outras terras distantes
Visitastes ? Dize ao triste.

- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, bahia ...

- Voei ao Recife, no cais
Pousei na rua da Aurora.

- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais !

Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino

Para o bem que é deste mundo :
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.


Análise do poema :

Cotovia contagia-se deste mundo imaginado, surreal, que não existe. Da esperança deste encontro por trazer novas notícias, de lugares desconhecidos. Tem a melancolia e a tristeza de anos passados que não voltam mais. Este pássaro europeu que viaja por países e continentes, indo parar na terra natal de Bandeira. Logo, existe um retrocesso a sua infância, exibindo cenários conhecidos desta sua época. A busca por notícias, por acontecimentos, dá a impressão de que existe esperança. Por um outro lado, temos a marca desta alegria perdida, que não volta mais. Então, existe esta crença ou acomodação de que o mundo adulto torna-se por vezes sem graça, triste, melancólico e que não valeria a pena. São as marcas de tristeza que estão no cotidiano da obra de Bandeira. Agora, vemos também em Cotovia uma alegoria desta ave trazendo notícias de outros continentes, indo para o Recife. Novidades, ares novos, sair da mesmice. Ela nos dá esta sensação, de resgatar os sentimentos tão caros ao homem como a alegria e a tradição.

_umberto.alitto

O Lutador (Manuel Bandeira)

“ O Lutador ”

Buscou no amor o bálsamo da vida,
Não encontrou senão veneno e morte.
Levantou no deserto a roca-forte
Do egoísmo, e a roca em mar foi submergida!

Depois de muita pena e muita lida,
De espantoso caçar de toda sorte,
Venceu o mostro de desmedido porte
- A ululante Quimera espavorida !

Quando morreu, línguas de sange ardente,
Aleluias de fogo acometiam,
Tomavam todo o céu de lado a lado.

E longamente, indefinidamente,
Como um coro de ventos sacudiam
Seu grande coração transverberado!

30 de setembro – 1º. De outubro de 1945.


Analisando o poema :

Este é um dos poemas elaborados por Bandeira durante o sono. Ao que ele diz, este poema veio meio que pronto na cabeça, tão logo acordou. Esta palavra “transverberado” impressiona Bandeira quando ele ouve uma história de sua prima, Maria do Carmo de Cristo Rei, uma monja Carmelita. A história era sobre uma santa que teve o coração transverberado. Bandeira gostou do som ao ouvir a palavra pela primeira vez. Por isto, utiliza neste poema. “O lutador”, de certa maneira, é uma história que nos lembra os contos de fadas, de bruxos, seres imagéticos, fantásticos. Existe uma fantasia, uma alegoria neste poema. E uma história de amor e de luta. A priori, luta por uma grande conquista, de algo quase impossível. E que no desfecho do poema vemos uma longa cena cinematográfica, de um final que narra a saga de alguém que lutou por algo e sai vencedor. Tem uma temática alegórica, aqui Bandeira visita histórias de nossa juventude e infância. Quando nos dá a visão destes seres inimagináveis, destes momentos quase inenarráveis, de um mundo que não é o nosso mundo. De uma grande metáfora, podendo ser a difícil luta pela sobrevivência ou um grande tema como o amor, a perda, a existência. E através desta alegoria nos faz enxergar o universo por outros angulos. Senão, apenas o material e capitalista ao qual estamos acostumados. Porque o papel da poesia é este, de nos dar material para que possamos sonhar, e também, começar a enxergar a realidade com um outro olhar.

_umberto.alitto

A Estrela (Manuel Bandeira)

“A Estrela”


Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria !
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.


Análise do poema :

Neste poema, novamente a presença deste astro, como uma imagem persecutória no universo Bandeiriano. Pode dar a interpretação de um destino ou de uma personagem famosa, feminina. Que nos remete as mulheres retratadas nas suas poesias. Por outro lado, submete a um universo inalcansável ou um limite. Poderia ser uma mulher impossível de conquistá-la ? Como em “Estrela da Manhã”? Também, existe toda uma ambientação, como se contemplasse as estrelas em um momento de reflexão e solidão, isolado em um quarto e observando o céu. Numa metáfora, podendo dialogar com outros temas como uma paixão por uma mulher impossível.
Percebemos novamente um tom utópico e quando fala em esperança no fim triste do seu dia. O que, quando no final do poema, diz o contrário. Como uma estrela é um objeto para ser apreciado, visto e não tocado, termina a poesia de maneira irônica, entendendo da impossibilidade de tocar ou aproximar deste astro. Existe um tom de tristeza dentro deste sentido utópico. “Para dar uma esperança mais triste ao fim do meu dia” reitera a expressão de tristeza, de uma fase de imenso tédio e que beira a melancolia. São estes temas tão comuns e palavras escolhidas que dão o tom a poesia de Bandeira. Ora melancólica, triste, ora irônica e beirando ao lirismo e a utopia.

_umberto.alitto

Belo Belo (Manuel Bandeira)

“Belo Belo”


Belo belo belo,

Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas
[ estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,

E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,

Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Análise do poema :

Seria arriscado comentar a presença de uma temática narcisista neste poema. Porém, temos um assunto muito mais associado a juventude. Pelos estudos, entendo que Bandeira retoma a estes temas e conceitos : a abordagem de sua juventude. Existe uma certa nostalgia presente que nos faz acompanhar Bandeira para sua terra onde nasceu, em Recife. Exatamente por aproximarmos desta fase.
Existe na poesia de Bandeira uma predisposição muito grande para a vida cotidiana, como afirmou Mário de Andrade ( Aspectos, pg 31 ). Esta é uma característica que marca muito seus poemas, de uma pessoa observadora, que senti e traduz momentos simplistas em versos. Belo Belo traz uma aceitação de um universo perfeito, um sistema igualitário, onde não é preciso muitos esforços. Não é necessário lutas e disputas. Apenas o prazer em sentir as coisas simples da vida. Novamente, o poeta reafirma sua visão de um mundo mais justo dentro desta visão utópica que vemos estudando nos seus poemas. Esta característica de poemas mais ligados ao cotidiano do homem, humano, reafirma sua marca, sua poesia que foge então de temas filosóficos demais. Por Bandeira ter uma visão mais amarga da vida, desta preocupação deste muito cedo com temas fortes e obscuros como a morte, então, traz em Belo Belo a vontade em exprimir um universo ideal, desta juventude que renega as coisas ruins e deseja o mais belo, o mais sublime dos momentos simplistas. Fica nítido sua característica de observador na maneira como imprime seus versos, arte dos seus pensamentos e idéias, que vem exprimir sua maneira de enxergar o mundo e os fenômenos tão importantes como vinham sendo estudados na sua época. Belo Belo é uma homenagem a uma época e período de nostalgias, de alumbramentos, de emoções, de um momento esperado, idade projetada dentro de uma perspectiva de vida e um modelo. Bandeira sempre acreditou que iria morrer, no início acreditava que morreria cedo e depois levou toda uma vida inteira. Escolhe, então, uma temática voltada para uma juventude querida, uma antítese de um período existencial do homem como sendo uma fase ideal e que para por ali, ou um estilo de vida desejada. É muito nítido esta expressão para criar este modelo idealizado de vida. Por ter sua saúde comprometida deste adolescente, onde vive praticamente comprometido com tratamentos pela sua tuberculose. Onde surge a perseguisão e medo da morte. E onde volta pra temas humildes. Como a morte não vem, ele passa a ater-se a temas cotidianos, aonde surge material para criação de suas poesias. E nesta sua vida tediosa ele vai buscar maneiras de escrever metaforizando com estes universos utópicos, de uma vida ideal.


_umberto.alitto

"Estrela da Manhã" (Manuel Bandeira)

“Estrela da Manhã”

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã ?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem ?
Procurem por toda parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa ?
Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra
[ e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.

( Estrela da Manhã – 1936 )


Minha análise do poema :

A análise que temos, depois de algumas observações, é de percebermos as emoções e o pensamento de Bandeira de uma maneira mais simplista e direta. Onde atinge sua plenitude neste exercício livre de seu lirismo, sua comoção e alumbramentos. Este ser repleto de epifanias. Existem momentos que transitam pelas diversas fases do homem : a juventude, depois uma fase mais madura, adulta e a velhice. Ou seja, três momentos que estão distantes da morte - assunto que tanto interessava a Bandeira e que ele tanto lutou e temia. Bandeira durante períodos em que trocava correspondências com Mário de Andrade deixou bastante claro estas suas fases, e que Mário reconheceu em respostas. O poeta Bandeira e suas fases, do mais alegre, lírico, ao mais temeroso e doente. É nesta fase de sua doença onde percebemos uma infinita fonte de matéria para criar e compor seus poemas. Existe um rítmo de melancolia em “Estrela da Manhã”, é onde Bandeira vai desenrolando sua justificativa para definir um homem simples que tudo espera, que tudo supera. Como em um projeto irrealizável, de alguém que espera, por suportar tudo, vai e cria uma cena utópica e única. Que no verso final remete ao desejo do início, de querer a estrela da manhã. Utopia neste ensaio para o próspero dia em que realizará seu desejo. E, novamente, nesta volta ao primeiro verso, então, reafirma a utopia como sendo o princípio do progresso. Metaforicamente, o poema sugere uma situação política, uma questão pessoal sobre um tema a ser tratado ou resolvido. Concluí-se da utilização de uma utopia para dizer qual caminho seguir. É a elegância em saber escrever. A palavra escrita e polida.


_Umberto.Alitto

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Furacão "Humberto" atinge a costa do Texas




13/09/2007 - 05h44
Furacão "Humberto" atinge a costa do Texas

(atualiza com boletim do NHC das 4h10)

Miami, 13 set (EFE).- A tempestade tropical "Humberto", a oitava da temporada no Atlântico Norte, atingiu hoje a categoria de furacão, no Golfo do México, e chegou ao litoral do estado americano do Texas, informou o Centro Nacional de Furacões (NHC), com sede em Miami.

O olho do furacão chegou a High Island com ventos sustentados de 135 km/h, segundo o NHC, em seu boletim das 4h10 (de Brasília).

O "Humberto" se fortaleceu nas águas quentes do Golfo do México, e ameaça com fortes chuvas o Texas. As autoridades decretaram um aviso de furacão do leste de High Island até Cameron, na Louisiana.

O aviso de tempestade tropical se mantém do leste de Sargent até High Island, também no Texas, e de Cameron até Intracoastal, na Louisiana.

O "Humberto" se desloca a 13 km/h, em direção norte-nordeste. Ele está na categoria 1 da escala de intensidade Saffir-Simpson, que vai até 5.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/09/13/ult1809u12929.jhtm

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Roxorloops show part 1/2 french beatbox championship 2006

Beatbox

Puppet and puppeteer show

Os paranóicos


Dois amigos, sentados em uma mesa-de-bar, jogam conversa fora :

X. Você já teve insônia de amor ?
Y. Como assim ? Isto é, já. Mas insônia por amor. É diferente.
X. Insônia por amor ou de amor. Tudo a mesma coisa.
Y. Pois é. Tudo na mesma.
X. No meu caso, é diferente.
Y. Não entendi. Você acabou de falar que dá na mesma.
X. Veja bem. Quando você tem insônia de amor, é porque você fica pensando em alguém incessantemente. Sabe como é ? Alguém que você ainda não conhece.
Y. Sei. E então, a outra fica como ?
X. E quando é por amor, você acordado sonha com quem você está amando verdadeiramente.
Y. Ou seja, se você está namorando ou de rolo com alguém. Então, fica pensando nesta pessoa.
X. Mais ou menos.
Y. E o outro caso é quando você acaba de conhecer alguém e apaixona-se.
X. Opa. Você pegou a ligação.
Y. Peguei coisa nenhuma. Estou tentando sacar qual que é.
X. Okay.


"Y" acende um cigarro. Enquanto "X" pede outra cerveja.

Y. Okay coisa nenhuma. Quando é “por amor”, eu entendo que é projeção. Você projeta em alguém. É imagem apenas. Não é realidade.
X. E vira um tipo de sofrimento. “Por amor”.
Y. Carinha, faz o seguinte : - ou tu toma um porre e vai dormir. Ou tu liga na tv, internet, sei lá!
X. O problema é que a idéia é fixa. Tipo fixação. Perseguição. Coisa assim.
Y. Está bem. Está bem. Já ouviu um ditado que amor não se pede ?
X. Isto já ouvi sim.
Y. Então, relaxa. Parece moda este lance de fixação. Letra de música, sei lá.
X. Eu li recentemente sobre uma tese a respeito. É caso de terapia. Um sujeito passou 48 horas jogando sem interrupção. Outro, ficou dias esperando um telefonema de uma suposta namorada. Ambos tiveram surtos de violência.
Y. Epa, isto é doença ou é caso de análise ?
X. As duas coisas.
Y. Então, tu te ajeita com esta paranóia.
X. Eu queria.
Y. Isto é coisa de gente que não tem o que fazer. Sentar numa mesa de bar, estas horas, pra falar desta merda de porra de paranóia de amor ? Francamente. Meu time de futebol, como fica ?
X. Veja, você torce pelo teu time ?
Y. Sim.
X. Verdadeiramente ?
Y. Sim.
X. Você tem insônia quando ele perde ?
Y. Tenho. Fico remoendo estas perdas todas.
X. Hummmm ... Sei.
Y. Que foi ?
X. Você torce por amor ao time ou de amor ao time ?


"Y" pede licença e vai até o banheiro. Desorientado.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Rammstein - Mein Teil



RAMMSTEIN PROCESSADO POR CANIBAL ALEMÃO
08 de janeiro de 2006
Armin Meiwes, o alemão que ficou conhecido como "Der Metzgermeister" (O Mestre Carniceiro) ou "Kannibalen von Rotenburg" (Canibal de Rotemburgo) devido aos atos canibais executados há quatro anos e que serviram de inspiração para a produção da música "Mein Teil", expressou a sua intenção de processar o Rammstein pela faixa nº2 do CD "Reise, Reise". Quando ocorreu o lançamento do single "Mein Teil" em Julho de 2004, a música revelou-se um sucesso na Alemanha, atingindo o primeiro lugar do Top nacional.

FONTES: RAMMSTEIN PT
NEO-RAMMSTEIN.COM


Editando: eu já conhecia o clipe e a história da música. Inspirada no caso do Canibal. E, justamente ontém, participando de uma roda de bate-papo com o grupo de teatro "Argonautas" é que fiquei sabendo do processo movido pelo canibal. Corri pro youtube pra checar novamente o clipe que é muito bom. Os Argonautas encenavam um espetáculo belíssimo de cinco exercícios. Em um dos exercícios, um ator do núcleo pesquisou durante meses sobre este caso do "Canibal de Rotemburgo" para criar uma cena incrível. Talvez, uma das mais arriscadas e belas que já vi no teatro brasileiro. E surpreendi enormemente com todo resultado do núcleo Argonautas. Eles foram brilhantes. A peça chama-se "Terra Sem Lei". Voltando ao clipe do Rammstein, percebam a atuação de um ator careca que faz um solo ao chão. Lembrando um tipo Butoh moderno. E o quanto este clipe é teatral e dramático. No final, uma dama sai do metrô Deutsche Oper com vários homens acorrentados, como animais. Isto lembra uma cena inicial do filme "Saló" de Pasolini. Quando várias crianças com coleiras e correntes sobem uma escadaria. Agora, como pode um "canibal" processar uma banda ? Enfim, genial este clipe.

Sobre Café E Cigarros (Coffee and Cigarettes)



Sobre Café e Cigarros

Título Original: Coffee and Cigarettes
Ano de lançamento : 2003


Existe tema melhor do que este para encontros casuais de pessoas discursarem sobre diferentes assuntos ?

Pois é. Este foi o mote para que o diretor Jim Jarmusch (Ghost Dog) construísse este filme, que compreende de uma série de 11 curtas-metragens em que pessoas falam sobre suas experiências de vida, comentam vários assuntos, enquanto tomam uma chícara de café e fumam seus cigarros.
Esta cena que copio do youtube, mostra dois grandes ícones da música americana contracenando numa cena hilária. O recorte não permite visualizar o começo da história. Quando o personagem do Iggy Pop entra no bar, ele depara com uma jukebox - máquina de tocar discos. Ali, encontra músicas do Tom Waitts e fica perpléxo. Depois, quando ele vai embora, Tom Waitts vai até a jukebox e vasculha vários discos. E também fica surpreso ao encontrar coisas do Iggy. Entre esta brincadeira, aparece este diálogo incrível.
Tem uma cena maravilhosa de dois velhinhos, sentados numa mesa no meio de um calçadão e ficam falando sobre a vida e temas universais. Sem sombra de dúvidas, entre um café ou um cigarro, aproximam-se sinápses de diálogos mágicos, alumbramentos, poesias e todo um repertório que ( acredito eu ) todos nós já reviramos certa vez em um balcão de bar. O filme é imperdível.

Participam : Bill Murray, Cate Blanchett, Roberto Benigni, Steve Buscemi, Alfred Molina, Tom Waitts, Iggy Pop e outros.

Do Abysmu



Do Abysmu


Ventava e fazia frio
do alto daquelas nuvens
eu apenas olhava abaixo
sentia medo
e não era anjo

A exposição me perturbava
aquela mestra que tanto queria acercar-se
me trouxe outro medo

Minhas mãos gélidas tocaram minha face
enquanto minhas pálpebras alagadas pelas lágrimas
tentavam fazer-me desistir

Minhas pupilas jamais esqueceram tamanha imagem
que me cercava diante de meu medo
e aqui, eu, sóbrio e só, tivera dúvidas

E quase por um pequeno equívoco
teria desvanecido aquela mestra
a bruxa que virou santa
a mulher coroada pela sua sabedoria

Ventou e fez frio
calafrio debaixo de meus lençóis
sol desbotado numa tarde nublada
Já dentro de mim fez outro silêncio

Oh, meus soluços que ninguém pôde ouvir
dias que jamais passavam
dúvidas foram junto com as desculpas
E aqui, Eu, pobre homem
levantei de meu pesadelo
E aqui, Eu, pobre homem
abandonei meu sofrimento

Então,
descobri uma passagem
Desde este tempo,
comecei a caminhar

Dias e dias
Muitas falas e palavras
São os ecos, os ecos, os ecos

E o silêncio, quem faz silêncio ....

Quem fez silêncio ....
no abismo ....
só se ouve o silêncio.


_Umberto.Alitto

Paul Celan




CRISTAL
Não procura nos meus lábios tua boca,
não diante da porta o forasteiro,
não no olho a lágrima.
Sete noites acima caminha o vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

DO AZUL que ainda busca seu rosto, sou o primeiro a beber.
Vejo e bebo de teu rastro:
Deslizas pelos meus dedos, pérolas, e cresces!
Cresces como todos os esquecidos
Deslizas: o granizo negro da melancolia
Cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

DISTÂNCIAS
Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim:
juntos
deixa-nos respirar o véu
que nos esconde um do outro,
quando a noite se dispõe a medir
o que ainda falta chegar
de cada forma que ela toma
para cada forma
que ela a nós dois emprestou.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

ERRÁTICO
As noites se fixam
sob teu olho. As sílabas re-
colhidas pelos lábios — belo,
silencioso círculo —
ajudam a estrela rastejante
em seu centro. A pedra,
um dia perto da fronte, abre-se aqui:
ante todos os
espalhados
sóis, alma,
estavas, no éter.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

QUANDO ME ABANDONEI EM TI,
eras pensamento,
algo
murmura entre nós dois:
do mundo a primeira
das últimas
asas,
em mim cresce
a pele sobre
tempestuosa
boca, tu não chegas até ti.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

COMO TE EXTINGUES em mim:
ainda no último
e gasto
nó de ar
estás lá com uma
faísca
de vida.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

Simpsons --> All Intros



Este vídeo compilou todas as intros deste seriado de tv. Engraçado como este tema do "sofá" resume metaforicamente o centro de reunião das famílias. Em uma espécie de "templo sagrado". Creio que a TV seja o símbolo mais revolucionário (comportamentalmente falando) no lar. Mais que o rádio e a internet. Pois, rádio ninguém mais ouve e internet ainda é um bem restrito a determinadas classes. Talves, aqui no Brasil, tecnologicamente falando, poderemos considerar o "celular" como o vilão neste novo século. Se é que isto tem impactos brutais na relação homem e seus semelhantes versus "a máquina" ou "objeto tecnologico". Afinal, qualquer pessoa hoje em dia tem celular. E o mais incrível, quem é que não tem um perfil no orkut ? Ou você tem ou você está fora da roda, sacou ? Agora, que o "sofá" sugere um tema interessante sobre a família, isto é engraçado. Ao mesmo tempo, sugere psicanálise (risos). Eu tenho sofá quase que por enfeite. Ou por ocasião : - Você recebe visitas e, por educação, pede pra sentarem no sofá.

sábado, 8 de setembro de 2007

Novo show de Renato Godá (recomendo)


Segue uma palhinha :

Dolores O'Riordan

Dilana - best singer vocal



Dilana ficou em segundo-lugar no concurso SuperNova RockStar. Patrocinado pela Microsoft MSN e realizado no ano passado, USA. Cujo objetivo era eleger um vocal pra banda "Supernova" - criada por Tomy Lee (ex Mötley Crue), Jason Newsted (ex Mettalica) e Gilby Clarke (ex Gun´s and Roses ). Acompanhei toda programação durante o ano que passou. Não foi surpresa pra mim Dilana ficar em 2o. lugar. Na sua primeira apresentação eu pensei :"Nossa, temos uma nova Janis Jopplin". Além do vocal poderoso, atitude, ela é performática e cria versões contundentes e fortes pras suas canções. Sem deixar de ser poética, imprime um novo realismo. Era a minha favorita e até acreditei que poderia levar o primeiro lugar. Como os integrantes da banda tem um certo machismo, eu diria, nas finais do concurso já fui contentando com o segundo lugar. Com isto, além da projeção mundial que Dilana ganhou. Ela também recebeu dos produtores do concurso a honra em ter seu primeiro disco produzido por este time. Parece-me que o disco estava pra sair ainda em 2007. Vamos conferir. Eu não ouvi muita coisa do Supernova. Apesar das influências todas do rock clássico e de bandas como : Cream, Audioslave, Velvet Revolver e outras, o som ainda soa comercial demais. Este tipo hard rock meloso que toda FM adora propagar pelas ondas sonoras. Entretanto, Dilana entrou pra minha coleção de vozes femininas e grandes intérpretes. Longa vida pra ela.

Dress - by PJ Harvey

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Love Shack

Tango & Shot




Meus caros ouvintes !

Meus caros clitóris e picas presentes nesta platéia magnífica ....
Alguém aqui já saboreou seu programa matinal da TV ? De plasma, de borracha, de silicone ....
Sabe da última novidade da última semana estampada nos diários populares ?
Então, tomaram suas pílulas pós-refeições para alívio do estress,
do intestino preso, do colápso mental, só para aglutinar as sinápses cerebrais e ter um pouco de alívio espiritual ?
Ou, só para livrar-se do caos urbanóide que infesta esta grande cidade cinza ?
Quem colocou os supositórios
e fez suas várias refeições diárias
e revisou suas agendas
e leu seus recados postais nos celulares
e parafernálias high-techs
ou ainda escreveu seus scraps
deletou mensagens do orkut
respondeu emails
abasteceu o carro
mediu pressão arterial
consultou o oculista
o dentista
o ginecologista
falou com a diarista
e istas
e listas
e bebidas
parou na padaria
no restaurante
no momo Donalds
e cafés dos pontos pitorescos
e faltou tempo para apreciar a paisagem
preferiu trocar fraudas descartáveis
tomar banhos de 1 minuto
fez alongamentos das pálpebras
expurgou excrementos corpóreos
ginástas labiais
sussurou mantras
e religiões
e poesias concretas e ... deixe para depois ...

Senhoras e Senhores !?!
Gostaríamos de apresentar um único fato ...
apenas um .....
E não tem bobeira

Com vocês !!!!

E com vocêssssss ????

Prezada platéia !!!!

Tenham o prazer de receber nesta megalópole, metrópole e nação ....

O feriado nacional …..

Taram-tam-tam, taram-tam-tam

Amor-Perfeito


"Amor Perfeito"

Eu busco, busco
Então, busco o quê
Um suspiro de mim
Ou um momento de você.

Eu quero, quero
Quero e ora nego
Mas apego na sua carícia
Neste gesto de malícia.

Senti cair dentre as valas
De sentimentos vitáceos
Que sua lembrança consolava.

Estaria pensando em você ?
Se era imagem e não pensamento
Então, o que era ?

Era Amor e Paixão
(1)BERTO

Kazuo Ohno

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Homem E O Cachorro



“O Homem E O Cachorro”

... derivas. E aquelas sentinelas transeuntes, representantes institucionais, descortinavam sobre suas matinês. E não causavam medo algum. Estes seres soletravam onomatopéias e verbos insignificantes. O que interessava ao homem era seu cão. Enquanto os passantes transbordavam suores debaixo de calafrios. Nada daquilo importava. Porém, ninguém passava incólume pelas sentinelas. Apenas “o homem” farejava sentidos alheios para proceguir tranquilo pelas esquinas ocultas da rua X. Ele sabia decifrar códigos e senhas, leituras sociológicas de perfis humanos. A geografia importava mais do que ícones. Ele queria apenas andar com teu cão pelas ruas durante o alvorecer. E para isto aprendeu que não precisava de moeda alguma para troca. Pois, sua filosofia era viver sobre as regiões que pertenciam aos teus ancestrais muito mais do que as instituições presentes. Não pedia licença. Era meta-físico. Translúcido. Aprendeu a linguagem das ruas e guetos. E sabia andar por aí sem que ninguém notasse tua presença. O homem que conhecia tais culturas ancestrais aprendeu a conquistar seus direitos. Veio dos guetos. E fazia das sentinelas transeuntes o que bem queria. Era invisível à todos. O homem atravessava pelos cemitérios e mandava as almas atormentadas tomarem chás com seus Deuses. Enquanto seu cão latia preces de misericórdias para seus semelhantes. O dia bastava quando o homem completava seu ciclo. E dava sinal para que a noite cobrice a cidade oculta sobre os olhos dos cidadãos comuns. Então, o cão já poderia tomar outras formas e, só no dia seguinte, voltaria para fazer companhia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Teatro Oficina

“Os Sertões”

Teatro Oficina sai em turnê pelo Brasil com peça

Folha Online - 31/08/07

A Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona inicia turnê pelo país com o espetáculo “Os Sertões” a partir de setembro.

A peça encena a saga narrada por Euclides da Cunha no livro homônimo e conta com direção do dramaturgo, diretor e ator José Celso Martinez Corrêa.

Esta é a primeira vez que o espetáculo de 26 horas viaja completo com as cinco partes: “A Terra”, “O Homem 1”, “O Homem 2”, “A Luta 1” e “A Luta 2”.

A jornada dos atores será iniciada nas proximidades da região onde se desenrolou a Guerra de Canudos, registrada em “Os Sertões”, na Bahia de 05 a 09 de setembro, no ‘Museu du Ritmo‘ (antigo ‘Mercado do Ouro’).

Em seguida a companhia segue para Recife, onde se encena no Cais do Porto, entre os dias 19 e 23.

As apresentações serão encerradas na primeira quinzena de outubro, no festival de teatro ‘Rio Cena Contemporânea‘, no Rio.

No total são 26 horas de encenação, por uma equipe de 70 pessoas, que coloca o pé na estrada carregando cinco toneladas de cenário e objetos de cena e 2,5 mil figurinos.

No palco estarão 47 atores, músicos, dançarinos e atores mirins do ‘Movimento Bixigão’, mais dois câmeras ao vivo, quatro contra-regras e, nos bastidores outros 17 profissionais entre iluminadores, sonoplastas, VJs, produtores, camareiras e pessoal de apoio.

A viagem de “Os Sertões” iniciam as comemorações dos 50 Anos da ‘Companhia Teatro Oficina’, a serem completados em 16 de agosto de 2008.

“Os Sertões” Onde e Quando: 5 a 9 de setembro, em Salvador, no ‘Museu du Ritmo‘ - Av. Jequitaia, 3 Tel.: (71) 3242-0244; de 19 a 23 de setembro, em Recife, no ‘Cais do Porto ‘ - Av. Alfredo Lisboa (Recife Antigo); de 2 a 14 de outubro, no Rio de Janeiro, no ‘Centro Cultural da Ação de Cidadania‘ - Av. Barão de Tefé, 75 - Saúde Tel.: (21) 2233-7460

sábado, 1 de setembro de 2007

Noite

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Agostinho Neto

Steppenwolf Born to Be Wild - Easy Rider



SteppenWolf fazia um som muito bom naqueles anos psicodélicos sessentistas e setentistas. Pena que a banda viveu da glória de um sucesso apenas. Ou seria apenas pelo fato de um disco bem sucedido ? Acabou tão rápido como um cometa. Como tudo que é bom e dura pouco. O filme "Easy Rider" é um dos que mais revejo. O fato dos protagonistas viverem aquele sonho de liberdade dos jovens americanos daquela época - de pegar a moto e sair na estrada ( Lembra Kerouac, Allen Ginsberg e outros beatnicks ) - era o sonho de consumo daquela molecada. Viver sem medir as consequências. Viver por um tanto e bastaria para serem felizes. Peter Fonda e Denis Hopper interpretam dois jovens típicos daquela geração, saem em busca de liberdade. Wyatt ( personagem de Peter ), aparece com uma grana preta que conseguiu através do tráfico de drogas . Percebam logo no início do filme, aparece um figurão muito estranho e pedante ( um dandy novaiorquino ? ) para comprar o pó contrabandeado. Daí, surge o dinheiro que bancará a viagem de Wyatt e Billy. E ao invés de encontrarem a liberdade que imaginavam através de um sonho, encontram a pura realidade das coisas. Ao encontrarem uma comunidade hippie, percebem naqueles jovens uma vida limitada e sem grandes perspectivas. Apesar dos jovens hippies terem quase tudo : teatro, música, rituais, sexo, drogas. Entao, Billy e Wyatt sentiram não pertencer àquela tribo. E iniciam outra jornada. Pois, a idéia era viajar para cruzar um caminho traçado. A morte retratada no final do filme nada mais é do que uma metáfora de que “o sonho acabou”. Como John Lennon cantou certa vez na música “God”. Pois, dizia não acreditar em Deus e nos Beatles. E porque não afirmar que apenas o sonho acabou pra toda aquela geração. Diante de guerras e da vida moderna, os jovens continuavam sem perspectivas, vivendo uma realidade triste. Talvez, esta metáfora não seja apenas uma espécie de pensamento filosófico. Talvez, Easy Rider diga muito mais. Os tempos mudaram e são outros. Ninguém mais vive em comunidades como os hippies viviam. Nem existem festivais como Woodstock e com aqueles apelos todos de protesto. Hoje, os jovens ocupam-se com outras coisas e existem muito mais opções de distração. E este distrair-se pode ser perigoso. Pois, novamente, mergulha-se num sonho ( alegre ou triste ), e tornam-se escravos. E voltar pra realidade é uma outra questão. Esta realidade discutida em Easy Rider nos faz, de fato, analisarmos como é estar diante da nossa realidade nos tempos atuais. Conviver com isto e ter consciência. Imagino que Dennis Hopper pensou também em questões políticas ao dirigir este filme. E o tema, mesmo depois de 30 anos, continua pertinente e atual. Jack Nicholson ganhou um prêmio como ator coadjuvante e interpreta um personagem carismático e louco : George. Além de bêbado e de usar um terno menor que o teu tamanho, só mete em roubadas. É um caipira que resolve enturmar com dois motoqueiros sem destino. Novamente, a questão da ingenuidade que é marcante na juventude, por conta da falta de conhecimento, da base, e dos estímulos para jogar-se no desconhecido. Que é outra questão pertinente ao mundo jovem. A maneira como o filme acaba é sinistro. Isto é, a vida dos protagonistas ser influenciada tragicamente por um choque cultural. Exatamente, pelo preconceito ao confrontar-se com as culturas do interior estadunidense. E não é só por isto. Como é metafórica, então, o que acabou foi o sonho da liberdade. Ninguém está livre. E isto é sufocante como desfecho do filme. Ou da vida ?

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Miriam Rinaldi (Teatro Vertigem)

Campeonato de Street Dance/France_Paris

Eternamente Satyriano



Eis uma das peças teatrais mais belas que pude ver. "Inocência" teve estréia em 2006, no espaço dos Satyros 1, durante as Satyrianas. O texto sublime e apaixonante é da competente dramaturga alemã Dea Loher, de que sou fã. A peça conta com um elenco magistral. Cuja participação de Ivam Cabral e Cléo De Páris são inesquecíveis pela tamanha dedicação com aqueles teus personagens. A direção, adaptação e tradução tem o peso de Rodolfo Vásquez, que não brinca em serviço. É um texto que fala da solidão humana, deste vazio que vivemos nas grandes cidades. Cujos personagens e histórias nos fazem mergulhar nesta profundeza da vida e olhar um pouco mais o que não é tão óbvio. O que nos faz refletir sobre nós mesmos, sobre as condições diversas que uma cidade grande impõe àqueles inocentes seres marginalizados pela opressão. E, por que não, olhar as cenas da vida por detrás das cortinas de fumaça que tanto nos impede de vivenciá-las. E das histórias contadas, impossível ninguém identificar com algo semelhante. Eu tive momentos em que me contive em emoção, chorando por dentro, para não atrapalhar aos colegas da platéia. Tamanha realidade com que os fatos imprimiram em mim, revirando coisas e fazendo recordar de algumas experiências que já pude viver. A montagem é bastante sofisticada, com algumas projeções. Idem para trilha sonora e iluminação. Poço afirmar com veemência que esta peça é uma das minhas preferidas entre tantas que já pude ver. Por isto e muito mais que não deixo de conferir a programação deste Teatro dos Satyros e acompanhar ao máximo do que conseguir dos espetáculos exibidos. Raríssimos lugares, em diversas cidades que conheci, podem trazer tamanha variedade e qualidade de peças como este grupo faz. Sou grato pelas experiências.