quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Apodiforme





"Apodiforme"

negro protesto
preto manifes
to
cinza car
bono
de pardal
metal em
brasa
como ácidos organicos
viram carcás de
porcelana escura
como pósteras visões
matinais ene
grecidas
brotando oveiros
encobertos de
plumas melan
cólicas
escrevendo breviários
ano
nimos de
histórias
inenarráveis
inertes ao
som de
canhonaços
(voaram livres)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Cotovia (Manuel Bandeira)

“Cotovia”

Alô, cotovia !
Aonde voaste,
Por onde andaste,
Que tantas saudades me deixastes ?

- Andei onde deu o vento.
Onde foi meu pensamento.
Em sítios, que nunca viste,
De um país que não existe ...
Voltei, te trouxe a alegria.

- Muito contas, cotovia !
E que outras terras distantes
Visitastes ? Dize ao triste.

- Líbia ardente, Cítia fria,
Europa, França, bahia ...

- Voei ao Recife, no cais
Pousei na rua da Aurora.

- Aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais !

Os anos não, nem os dias,
Que isso cabe às cotovias.
Meu bico é bem pequenino

Para o bem que é deste mundo :
Se enche com uma gota de água.
Mas sei torcer o destino,
Sei no espaço de um segundo
Limpar o pesar mais fundo.
Voei ao Recife, e dos longes
Das distâncias, aonde alcança
Só a asa da cotovia,
- Do mais remoto e perempto
Dos teus dias de criança
Te trouxe a extinta esperança,
Trouxe a perdida alegria.


Análise do poema :

Cotovia contagia-se deste mundo imaginado, surreal, que não existe. Da esperança deste encontro por trazer novas notícias, de lugares desconhecidos. Tem a melancolia e a tristeza de anos passados que não voltam mais. Este pássaro europeu que viaja por países e continentes, indo parar na terra natal de Bandeira. Logo, existe um retrocesso a sua infância, exibindo cenários conhecidos desta sua época. A busca por notícias, por acontecimentos, dá a impressão de que existe esperança. Por um outro lado, temos a marca desta alegria perdida, que não volta mais. Então, existe esta crença ou acomodação de que o mundo adulto torna-se por vezes sem graça, triste, melancólico e que não valeria a pena. São as marcas de tristeza que estão no cotidiano da obra de Bandeira. Agora, vemos também em Cotovia uma alegoria desta ave trazendo notícias de outros continentes, indo para o Recife. Novidades, ares novos, sair da mesmice. Ela nos dá esta sensação, de resgatar os sentimentos tão caros ao homem como a alegria e a tradição.

_umberto.alitto

O Lutador (Manuel Bandeira)

“ O Lutador ”

Buscou no amor o bálsamo da vida,
Não encontrou senão veneno e morte.
Levantou no deserto a roca-forte
Do egoísmo, e a roca em mar foi submergida!

Depois de muita pena e muita lida,
De espantoso caçar de toda sorte,
Venceu o mostro de desmedido porte
- A ululante Quimera espavorida !

Quando morreu, línguas de sange ardente,
Aleluias de fogo acometiam,
Tomavam todo o céu de lado a lado.

E longamente, indefinidamente,
Como um coro de ventos sacudiam
Seu grande coração transverberado!

30 de setembro – 1º. De outubro de 1945.


Analisando o poema :

Este é um dos poemas elaborados por Bandeira durante o sono. Ao que ele diz, este poema veio meio que pronto na cabeça, tão logo acordou. Esta palavra “transverberado” impressiona Bandeira quando ele ouve uma história de sua prima, Maria do Carmo de Cristo Rei, uma monja Carmelita. A história era sobre uma santa que teve o coração transverberado. Bandeira gostou do som ao ouvir a palavra pela primeira vez. Por isto, utiliza neste poema. “O lutador”, de certa maneira, é uma história que nos lembra os contos de fadas, de bruxos, seres imagéticos, fantásticos. Existe uma fantasia, uma alegoria neste poema. E uma história de amor e de luta. A priori, luta por uma grande conquista, de algo quase impossível. E que no desfecho do poema vemos uma longa cena cinematográfica, de um final que narra a saga de alguém que lutou por algo e sai vencedor. Tem uma temática alegórica, aqui Bandeira visita histórias de nossa juventude e infância. Quando nos dá a visão destes seres inimagináveis, destes momentos quase inenarráveis, de um mundo que não é o nosso mundo. De uma grande metáfora, podendo ser a difícil luta pela sobrevivência ou um grande tema como o amor, a perda, a existência. E através desta alegoria nos faz enxergar o universo por outros angulos. Senão, apenas o material e capitalista ao qual estamos acostumados. Porque o papel da poesia é este, de nos dar material para que possamos sonhar, e também, começar a enxergar a realidade com um outro olhar.

_umberto.alitto

A Estrela (Manuel Bandeira)

“A Estrela”


Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria !
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.


Análise do poema :

Neste poema, novamente a presença deste astro, como uma imagem persecutória no universo Bandeiriano. Pode dar a interpretação de um destino ou de uma personagem famosa, feminina. Que nos remete as mulheres retratadas nas suas poesias. Por outro lado, submete a um universo inalcansável ou um limite. Poderia ser uma mulher impossível de conquistá-la ? Como em “Estrela da Manhã”? Também, existe toda uma ambientação, como se contemplasse as estrelas em um momento de reflexão e solidão, isolado em um quarto e observando o céu. Numa metáfora, podendo dialogar com outros temas como uma paixão por uma mulher impossível.
Percebemos novamente um tom utópico e quando fala em esperança no fim triste do seu dia. O que, quando no final do poema, diz o contrário. Como uma estrela é um objeto para ser apreciado, visto e não tocado, termina a poesia de maneira irônica, entendendo da impossibilidade de tocar ou aproximar deste astro. Existe um tom de tristeza dentro deste sentido utópico. “Para dar uma esperança mais triste ao fim do meu dia” reitera a expressão de tristeza, de uma fase de imenso tédio e que beira a melancolia. São estes temas tão comuns e palavras escolhidas que dão o tom a poesia de Bandeira. Ora melancólica, triste, ora irônica e beirando ao lirismo e a utopia.

_umberto.alitto

Belo Belo (Manuel Bandeira)

“Belo Belo”


Belo belo belo,

Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas
[ estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,

E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,

Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Análise do poema :

Seria arriscado comentar a presença de uma temática narcisista neste poema. Porém, temos um assunto muito mais associado a juventude. Pelos estudos, entendo que Bandeira retoma a estes temas e conceitos : a abordagem de sua juventude. Existe uma certa nostalgia presente que nos faz acompanhar Bandeira para sua terra onde nasceu, em Recife. Exatamente por aproximarmos desta fase.
Existe na poesia de Bandeira uma predisposição muito grande para a vida cotidiana, como afirmou Mário de Andrade ( Aspectos, pg 31 ). Esta é uma característica que marca muito seus poemas, de uma pessoa observadora, que senti e traduz momentos simplistas em versos. Belo Belo traz uma aceitação de um universo perfeito, um sistema igualitário, onde não é preciso muitos esforços. Não é necessário lutas e disputas. Apenas o prazer em sentir as coisas simples da vida. Novamente, o poeta reafirma sua visão de um mundo mais justo dentro desta visão utópica que vemos estudando nos seus poemas. Esta característica de poemas mais ligados ao cotidiano do homem, humano, reafirma sua marca, sua poesia que foge então de temas filosóficos demais. Por Bandeira ter uma visão mais amarga da vida, desta preocupação deste muito cedo com temas fortes e obscuros como a morte, então, traz em Belo Belo a vontade em exprimir um universo ideal, desta juventude que renega as coisas ruins e deseja o mais belo, o mais sublime dos momentos simplistas. Fica nítido sua característica de observador na maneira como imprime seus versos, arte dos seus pensamentos e idéias, que vem exprimir sua maneira de enxergar o mundo e os fenômenos tão importantes como vinham sendo estudados na sua época. Belo Belo é uma homenagem a uma época e período de nostalgias, de alumbramentos, de emoções, de um momento esperado, idade projetada dentro de uma perspectiva de vida e um modelo. Bandeira sempre acreditou que iria morrer, no início acreditava que morreria cedo e depois levou toda uma vida inteira. Escolhe, então, uma temática voltada para uma juventude querida, uma antítese de um período existencial do homem como sendo uma fase ideal e que para por ali, ou um estilo de vida desejada. É muito nítido esta expressão para criar este modelo idealizado de vida. Por ter sua saúde comprometida deste adolescente, onde vive praticamente comprometido com tratamentos pela sua tuberculose. Onde surge a perseguisão e medo da morte. E onde volta pra temas humildes. Como a morte não vem, ele passa a ater-se a temas cotidianos, aonde surge material para criação de suas poesias. E nesta sua vida tediosa ele vai buscar maneiras de escrever metaforizando com estes universos utópicos, de uma vida ideal.


_umberto.alitto

"Estrela da Manhã" (Manuel Bandeira)

“Estrela da Manhã”

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã ?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem ?
Procurem por toda parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa ?
Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra
[ e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.

( Estrela da Manhã – 1936 )


Minha análise do poema :

A análise que temos, depois de algumas observações, é de percebermos as emoções e o pensamento de Bandeira de uma maneira mais simplista e direta. Onde atinge sua plenitude neste exercício livre de seu lirismo, sua comoção e alumbramentos. Este ser repleto de epifanias. Existem momentos que transitam pelas diversas fases do homem : a juventude, depois uma fase mais madura, adulta e a velhice. Ou seja, três momentos que estão distantes da morte - assunto que tanto interessava a Bandeira e que ele tanto lutou e temia. Bandeira durante períodos em que trocava correspondências com Mário de Andrade deixou bastante claro estas suas fases, e que Mário reconheceu em respostas. O poeta Bandeira e suas fases, do mais alegre, lírico, ao mais temeroso e doente. É nesta fase de sua doença onde percebemos uma infinita fonte de matéria para criar e compor seus poemas. Existe um rítmo de melancolia em “Estrela da Manhã”, é onde Bandeira vai desenrolando sua justificativa para definir um homem simples que tudo espera, que tudo supera. Como em um projeto irrealizável, de alguém que espera, por suportar tudo, vai e cria uma cena utópica e única. Que no verso final remete ao desejo do início, de querer a estrela da manhã. Utopia neste ensaio para o próspero dia em que realizará seu desejo. E, novamente, nesta volta ao primeiro verso, então, reafirma a utopia como sendo o princípio do progresso. Metaforicamente, o poema sugere uma situação política, uma questão pessoal sobre um tema a ser tratado ou resolvido. Concluí-se da utilização de uma utopia para dizer qual caminho seguir. É a elegância em saber escrever. A palavra escrita e polida.


_Umberto.Alitto

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Furacão "Humberto" atinge a costa do Texas




13/09/2007 - 05h44
Furacão "Humberto" atinge a costa do Texas

(atualiza com boletim do NHC das 4h10)

Miami, 13 set (EFE).- A tempestade tropical "Humberto", a oitava da temporada no Atlântico Norte, atingiu hoje a categoria de furacão, no Golfo do México, e chegou ao litoral do estado americano do Texas, informou o Centro Nacional de Furacões (NHC), com sede em Miami.

O olho do furacão chegou a High Island com ventos sustentados de 135 km/h, segundo o NHC, em seu boletim das 4h10 (de Brasília).

O "Humberto" se fortaleceu nas águas quentes do Golfo do México, e ameaça com fortes chuvas o Texas. As autoridades decretaram um aviso de furacão do leste de High Island até Cameron, na Louisiana.

O aviso de tempestade tropical se mantém do leste de Sargent até High Island, também no Texas, e de Cameron até Intracoastal, na Louisiana.

O "Humberto" se desloca a 13 km/h, em direção norte-nordeste. Ele está na categoria 1 da escala de intensidade Saffir-Simpson, que vai até 5.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/09/13/ult1809u12929.jhtm

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Roxorloops show part 1/2 french beatbox championship 2006

Beatbox

Puppet and puppeteer show

Os paranóicos


Dois amigos, sentados em uma mesa-de-bar, jogam conversa fora :

X. Você já teve insônia de amor ?
Y. Como assim ? Isto é, já. Mas insônia por amor. É diferente.
X. Insônia por amor ou de amor. Tudo a mesma coisa.
Y. Pois é. Tudo na mesma.
X. No meu caso, é diferente.
Y. Não entendi. Você acabou de falar que dá na mesma.
X. Veja bem. Quando você tem insônia de amor, é porque você fica pensando em alguém incessantemente. Sabe como é ? Alguém que você ainda não conhece.
Y. Sei. E então, a outra fica como ?
X. E quando é por amor, você acordado sonha com quem você está amando verdadeiramente.
Y. Ou seja, se você está namorando ou de rolo com alguém. Então, fica pensando nesta pessoa.
X. Mais ou menos.
Y. E o outro caso é quando você acaba de conhecer alguém e apaixona-se.
X. Opa. Você pegou a ligação.
Y. Peguei coisa nenhuma. Estou tentando sacar qual que é.
X. Okay.


"Y" acende um cigarro. Enquanto "X" pede outra cerveja.

Y. Okay coisa nenhuma. Quando é “por amor”, eu entendo que é projeção. Você projeta em alguém. É imagem apenas. Não é realidade.
X. E vira um tipo de sofrimento. “Por amor”.
Y. Carinha, faz o seguinte : - ou tu toma um porre e vai dormir. Ou tu liga na tv, internet, sei lá!
X. O problema é que a idéia é fixa. Tipo fixação. Perseguição. Coisa assim.
Y. Está bem. Está bem. Já ouviu um ditado que amor não se pede ?
X. Isto já ouvi sim.
Y. Então, relaxa. Parece moda este lance de fixação. Letra de música, sei lá.
X. Eu li recentemente sobre uma tese a respeito. É caso de terapia. Um sujeito passou 48 horas jogando sem interrupção. Outro, ficou dias esperando um telefonema de uma suposta namorada. Ambos tiveram surtos de violência.
Y. Epa, isto é doença ou é caso de análise ?
X. As duas coisas.
Y. Então, tu te ajeita com esta paranóia.
X. Eu queria.
Y. Isto é coisa de gente que não tem o que fazer. Sentar numa mesa de bar, estas horas, pra falar desta merda de porra de paranóia de amor ? Francamente. Meu time de futebol, como fica ?
X. Veja, você torce pelo teu time ?
Y. Sim.
X. Verdadeiramente ?
Y. Sim.
X. Você tem insônia quando ele perde ?
Y. Tenho. Fico remoendo estas perdas todas.
X. Hummmm ... Sei.
Y. Que foi ?
X. Você torce por amor ao time ou de amor ao time ?


"Y" pede licença e vai até o banheiro. Desorientado.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Rammstein - Mein Teil



RAMMSTEIN PROCESSADO POR CANIBAL ALEMÃO
08 de janeiro de 2006
Armin Meiwes, o alemão que ficou conhecido como "Der Metzgermeister" (O Mestre Carniceiro) ou "Kannibalen von Rotenburg" (Canibal de Rotemburgo) devido aos atos canibais executados há quatro anos e que serviram de inspiração para a produção da música "Mein Teil", expressou a sua intenção de processar o Rammstein pela faixa nº2 do CD "Reise, Reise". Quando ocorreu o lançamento do single "Mein Teil" em Julho de 2004, a música revelou-se um sucesso na Alemanha, atingindo o primeiro lugar do Top nacional.

FONTES: RAMMSTEIN PT
NEO-RAMMSTEIN.COM


Editando: eu já conhecia o clipe e a história da música. Inspirada no caso do Canibal. E, justamente ontém, participando de uma roda de bate-papo com o grupo de teatro "Argonautas" é que fiquei sabendo do processo movido pelo canibal. Corri pro youtube pra checar novamente o clipe que é muito bom. Os Argonautas encenavam um espetáculo belíssimo de cinco exercícios. Em um dos exercícios, um ator do núcleo pesquisou durante meses sobre este caso do "Canibal de Rotemburgo" para criar uma cena incrível. Talvez, uma das mais arriscadas e belas que já vi no teatro brasileiro. E surpreendi enormemente com todo resultado do núcleo Argonautas. Eles foram brilhantes. A peça chama-se "Terra Sem Lei". Voltando ao clipe do Rammstein, percebam a atuação de um ator careca que faz um solo ao chão. Lembrando um tipo Butoh moderno. E o quanto este clipe é teatral e dramático. No final, uma dama sai do metrô Deutsche Oper com vários homens acorrentados, como animais. Isto lembra uma cena inicial do filme "Saló" de Pasolini. Quando várias crianças com coleiras e correntes sobem uma escadaria. Agora, como pode um "canibal" processar uma banda ? Enfim, genial este clipe.

Sobre Café E Cigarros (Coffee and Cigarettes)



Sobre Café e Cigarros

Título Original: Coffee and Cigarettes
Ano de lançamento : 2003


Existe tema melhor do que este para encontros casuais de pessoas discursarem sobre diferentes assuntos ?

Pois é. Este foi o mote para que o diretor Jim Jarmusch (Ghost Dog) construísse este filme, que compreende de uma série de 11 curtas-metragens em que pessoas falam sobre suas experiências de vida, comentam vários assuntos, enquanto tomam uma chícara de café e fumam seus cigarros.
Esta cena que copio do youtube, mostra dois grandes ícones da música americana contracenando numa cena hilária. O recorte não permite visualizar o começo da história. Quando o personagem do Iggy Pop entra no bar, ele depara com uma jukebox - máquina de tocar discos. Ali, encontra músicas do Tom Waitts e fica perpléxo. Depois, quando ele vai embora, Tom Waitts vai até a jukebox e vasculha vários discos. E também fica surpreso ao encontrar coisas do Iggy. Entre esta brincadeira, aparece este diálogo incrível.
Tem uma cena maravilhosa de dois velhinhos, sentados numa mesa no meio de um calçadão e ficam falando sobre a vida e temas universais. Sem sombra de dúvidas, entre um café ou um cigarro, aproximam-se sinápses de diálogos mágicos, alumbramentos, poesias e todo um repertório que ( acredito eu ) todos nós já reviramos certa vez em um balcão de bar. O filme é imperdível.

Participam : Bill Murray, Cate Blanchett, Roberto Benigni, Steve Buscemi, Alfred Molina, Tom Waitts, Iggy Pop e outros.

Do Abysmu



Do Abysmu


Ventava e fazia frio
do alto daquelas nuvens
eu apenas olhava abaixo
sentia medo
e não era anjo

A exposição me perturbava
aquela mestra que tanto queria acercar-se
me trouxe outro medo

Minhas mãos gélidas tocaram minha face
enquanto minhas pálpebras alagadas pelas lágrimas
tentavam fazer-me desistir

Minhas pupilas jamais esqueceram tamanha imagem
que me cercava diante de meu medo
e aqui, eu, sóbrio e só, tivera dúvidas

E quase por um pequeno equívoco
teria desvanecido aquela mestra
a bruxa que virou santa
a mulher coroada pela sua sabedoria

Ventou e fez frio
calafrio debaixo de meus lençóis
sol desbotado numa tarde nublada
Já dentro de mim fez outro silêncio

Oh, meus soluços que ninguém pôde ouvir
dias que jamais passavam
dúvidas foram junto com as desculpas
E aqui, Eu, pobre homem
levantei de meu pesadelo
E aqui, Eu, pobre homem
abandonei meu sofrimento

Então,
descobri uma passagem
Desde este tempo,
comecei a caminhar

Dias e dias
Muitas falas e palavras
São os ecos, os ecos, os ecos

E o silêncio, quem faz silêncio ....

Quem fez silêncio ....
no abismo ....
só se ouve o silêncio.


_Umberto.Alitto

Paul Celan




CRISTAL
Não procura nos meus lábios tua boca,
não diante da porta o forasteiro,
não no olho a lágrima.
Sete noites acima caminha o vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

DO AZUL que ainda busca seu rosto, sou o primeiro a beber.
Vejo e bebo de teu rastro:
Deslizas pelos meus dedos, pérolas, e cresces!
Cresces como todos os esquecidos
Deslizas: o granizo negro da melancolia
Cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

DISTÂNCIAS
Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim:
juntos
deixa-nos respirar o véu
que nos esconde um do outro,
quando a noite se dispõe a medir
o que ainda falta chegar
de cada forma que ela toma
para cada forma
que ela a nós dois emprestou.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

ERRÁTICO
As noites se fixam
sob teu olho. As sílabas re-
colhidas pelos lábios — belo,
silencioso círculo —
ajudam a estrela rastejante
em seu centro. A pedra,
um dia perto da fronte, abre-se aqui:
ante todos os
espalhados
sóis, alma,
estavas, no éter.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

QUANDO ME ABANDONEI EM TI,
eras pensamento,
algo
murmura entre nós dois:
do mundo a primeira
das últimas
asas,
em mim cresce
a pele sobre
tempestuosa
boca, tu não chegas até ti.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

COMO TE EXTINGUES em mim:
ainda no último
e gasto
nó de ar
estás lá com uma
faísca
de vida.
(tradução: Claudia Cavalcanti)

Simpsons --> All Intros



Este vídeo compilou todas as intros deste seriado de tv. Engraçado como este tema do "sofá" resume metaforicamente o centro de reunião das famílias. Em uma espécie de "templo sagrado". Creio que a TV seja o símbolo mais revolucionário (comportamentalmente falando) no lar. Mais que o rádio e a internet. Pois, rádio ninguém mais ouve e internet ainda é um bem restrito a determinadas classes. Talves, aqui no Brasil, tecnologicamente falando, poderemos considerar o "celular" como o vilão neste novo século. Se é que isto tem impactos brutais na relação homem e seus semelhantes versus "a máquina" ou "objeto tecnologico". Afinal, qualquer pessoa hoje em dia tem celular. E o mais incrível, quem é que não tem um perfil no orkut ? Ou você tem ou você está fora da roda, sacou ? Agora, que o "sofá" sugere um tema interessante sobre a família, isto é engraçado. Ao mesmo tempo, sugere psicanálise (risos). Eu tenho sofá quase que por enfeite. Ou por ocasião : - Você recebe visitas e, por educação, pede pra sentarem no sofá.

sábado, 8 de setembro de 2007

Novo show de Renato Godá (recomendo)


Segue uma palhinha :

Dolores O'Riordan

Dilana - best singer vocal



Dilana ficou em segundo-lugar no concurso SuperNova RockStar. Patrocinado pela Microsoft MSN e realizado no ano passado, USA. Cujo objetivo era eleger um vocal pra banda "Supernova" - criada por Tomy Lee (ex Mötley Crue), Jason Newsted (ex Mettalica) e Gilby Clarke (ex Gun´s and Roses ). Acompanhei toda programação durante o ano que passou. Não foi surpresa pra mim Dilana ficar em 2o. lugar. Na sua primeira apresentação eu pensei :"Nossa, temos uma nova Janis Jopplin". Além do vocal poderoso, atitude, ela é performática e cria versões contundentes e fortes pras suas canções. Sem deixar de ser poética, imprime um novo realismo. Era a minha favorita e até acreditei que poderia levar o primeiro lugar. Como os integrantes da banda tem um certo machismo, eu diria, nas finais do concurso já fui contentando com o segundo lugar. Com isto, além da projeção mundial que Dilana ganhou. Ela também recebeu dos produtores do concurso a honra em ter seu primeiro disco produzido por este time. Parece-me que o disco estava pra sair ainda em 2007. Vamos conferir. Eu não ouvi muita coisa do Supernova. Apesar das influências todas do rock clássico e de bandas como : Cream, Audioslave, Velvet Revolver e outras, o som ainda soa comercial demais. Este tipo hard rock meloso que toda FM adora propagar pelas ondas sonoras. Entretanto, Dilana entrou pra minha coleção de vozes femininas e grandes intérpretes. Longa vida pra ela.

Dress - by PJ Harvey

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Love Shack

Tango & Shot




Meus caros ouvintes !

Meus caros clitóris e picas presentes nesta platéia magnífica ....
Alguém aqui já saboreou seu programa matinal da TV ? De plasma, de borracha, de silicone ....
Sabe da última novidade da última semana estampada nos diários populares ?
Então, tomaram suas pílulas pós-refeições para alívio do estress,
do intestino preso, do colápso mental, só para aglutinar as sinápses cerebrais e ter um pouco de alívio espiritual ?
Ou, só para livrar-se do caos urbanóide que infesta esta grande cidade cinza ?
Quem colocou os supositórios
e fez suas várias refeições diárias
e revisou suas agendas
e leu seus recados postais nos celulares
e parafernálias high-techs
ou ainda escreveu seus scraps
deletou mensagens do orkut
respondeu emails
abasteceu o carro
mediu pressão arterial
consultou o oculista
o dentista
o ginecologista
falou com a diarista
e istas
e listas
e bebidas
parou na padaria
no restaurante
no momo Donalds
e cafés dos pontos pitorescos
e faltou tempo para apreciar a paisagem
preferiu trocar fraudas descartáveis
tomar banhos de 1 minuto
fez alongamentos das pálpebras
expurgou excrementos corpóreos
ginástas labiais
sussurou mantras
e religiões
e poesias concretas e ... deixe para depois ...

Senhoras e Senhores !?!
Gostaríamos de apresentar um único fato ...
apenas um .....
E não tem bobeira

Com vocês !!!!

E com vocêssssss ????

Prezada platéia !!!!

Tenham o prazer de receber nesta megalópole, metrópole e nação ....

O feriado nacional …..

Taram-tam-tam, taram-tam-tam

Amor-Perfeito


"Amor Perfeito"

Eu busco, busco
Então, busco o quê
Um suspiro de mim
Ou um momento de você.

Eu quero, quero
Quero e ora nego
Mas apego na sua carícia
Neste gesto de malícia.

Senti cair dentre as valas
De sentimentos vitáceos
Que sua lembrança consolava.

Estaria pensando em você ?
Se era imagem e não pensamento
Então, o que era ?

Era Amor e Paixão
(1)BERTO

Kazuo Ohno

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O Homem E O Cachorro



“O Homem E O Cachorro”

... derivas. E aquelas sentinelas transeuntes, representantes institucionais, descortinavam sobre suas matinês. E não causavam medo algum. Estes seres soletravam onomatopéias e verbos insignificantes. O que interessava ao homem era seu cão. Enquanto os passantes transbordavam suores debaixo de calafrios. Nada daquilo importava. Porém, ninguém passava incólume pelas sentinelas. Apenas “o homem” farejava sentidos alheios para proceguir tranquilo pelas esquinas ocultas da rua X. Ele sabia decifrar códigos e senhas, leituras sociológicas de perfis humanos. A geografia importava mais do que ícones. Ele queria apenas andar com teu cão pelas ruas durante o alvorecer. E para isto aprendeu que não precisava de moeda alguma para troca. Pois, sua filosofia era viver sobre as regiões que pertenciam aos teus ancestrais muito mais do que as instituições presentes. Não pedia licença. Era meta-físico. Translúcido. Aprendeu a linguagem das ruas e guetos. E sabia andar por aí sem que ninguém notasse tua presença. O homem que conhecia tais culturas ancestrais aprendeu a conquistar seus direitos. Veio dos guetos. E fazia das sentinelas transeuntes o que bem queria. Era invisível à todos. O homem atravessava pelos cemitérios e mandava as almas atormentadas tomarem chás com seus Deuses. Enquanto seu cão latia preces de misericórdias para seus semelhantes. O dia bastava quando o homem completava seu ciclo. E dava sinal para que a noite cobrice a cidade oculta sobre os olhos dos cidadãos comuns. Então, o cão já poderia tomar outras formas e, só no dia seguinte, voltaria para fazer companhia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Teatro Oficina

“Os Sertões”

Teatro Oficina sai em turnê pelo Brasil com peça

Folha Online - 31/08/07

A Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona inicia turnê pelo país com o espetáculo “Os Sertões” a partir de setembro.

A peça encena a saga narrada por Euclides da Cunha no livro homônimo e conta com direção do dramaturgo, diretor e ator José Celso Martinez Corrêa.

Esta é a primeira vez que o espetáculo de 26 horas viaja completo com as cinco partes: “A Terra”, “O Homem 1”, “O Homem 2”, “A Luta 1” e “A Luta 2”.

A jornada dos atores será iniciada nas proximidades da região onde se desenrolou a Guerra de Canudos, registrada em “Os Sertões”, na Bahia de 05 a 09 de setembro, no ‘Museu du Ritmo‘ (antigo ‘Mercado do Ouro’).

Em seguida a companhia segue para Recife, onde se encena no Cais do Porto, entre os dias 19 e 23.

As apresentações serão encerradas na primeira quinzena de outubro, no festival de teatro ‘Rio Cena Contemporânea‘, no Rio.

No total são 26 horas de encenação, por uma equipe de 70 pessoas, que coloca o pé na estrada carregando cinco toneladas de cenário e objetos de cena e 2,5 mil figurinos.

No palco estarão 47 atores, músicos, dançarinos e atores mirins do ‘Movimento Bixigão’, mais dois câmeras ao vivo, quatro contra-regras e, nos bastidores outros 17 profissionais entre iluminadores, sonoplastas, VJs, produtores, camareiras e pessoal de apoio.

A viagem de “Os Sertões” iniciam as comemorações dos 50 Anos da ‘Companhia Teatro Oficina’, a serem completados em 16 de agosto de 2008.

“Os Sertões” Onde e Quando: 5 a 9 de setembro, em Salvador, no ‘Museu du Ritmo‘ - Av. Jequitaia, 3 Tel.: (71) 3242-0244; de 19 a 23 de setembro, em Recife, no ‘Cais do Porto ‘ - Av. Alfredo Lisboa (Recife Antigo); de 2 a 14 de outubro, no Rio de Janeiro, no ‘Centro Cultural da Ação de Cidadania‘ - Av. Barão de Tefé, 75 - Saúde Tel.: (21) 2233-7460

sábado, 1 de setembro de 2007

Noite

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Agostinho Neto

Steppenwolf Born to Be Wild - Easy Rider



SteppenWolf fazia um som muito bom naqueles anos psicodélicos sessentistas e setentistas. Pena que a banda viveu da glória de um sucesso apenas. Ou seria apenas pelo fato de um disco bem sucedido ? Acabou tão rápido como um cometa. Como tudo que é bom e dura pouco. O filme "Easy Rider" é um dos que mais revejo. O fato dos protagonistas viverem aquele sonho de liberdade dos jovens americanos daquela época - de pegar a moto e sair na estrada ( Lembra Kerouac, Allen Ginsberg e outros beatnicks ) - era o sonho de consumo daquela molecada. Viver sem medir as consequências. Viver por um tanto e bastaria para serem felizes. Peter Fonda e Denis Hopper interpretam dois jovens típicos daquela geração, saem em busca de liberdade. Wyatt ( personagem de Peter ), aparece com uma grana preta que conseguiu através do tráfico de drogas . Percebam logo no início do filme, aparece um figurão muito estranho e pedante ( um dandy novaiorquino ? ) para comprar o pó contrabandeado. Daí, surge o dinheiro que bancará a viagem de Wyatt e Billy. E ao invés de encontrarem a liberdade que imaginavam através de um sonho, encontram a pura realidade das coisas. Ao encontrarem uma comunidade hippie, percebem naqueles jovens uma vida limitada e sem grandes perspectivas. Apesar dos jovens hippies terem quase tudo : teatro, música, rituais, sexo, drogas. Entao, Billy e Wyatt sentiram não pertencer àquela tribo. E iniciam outra jornada. Pois, a idéia era viajar para cruzar um caminho traçado. A morte retratada no final do filme nada mais é do que uma metáfora de que “o sonho acabou”. Como John Lennon cantou certa vez na música “God”. Pois, dizia não acreditar em Deus e nos Beatles. E porque não afirmar que apenas o sonho acabou pra toda aquela geração. Diante de guerras e da vida moderna, os jovens continuavam sem perspectivas, vivendo uma realidade triste. Talvez, esta metáfora não seja apenas uma espécie de pensamento filosófico. Talvez, Easy Rider diga muito mais. Os tempos mudaram e são outros. Ninguém mais vive em comunidades como os hippies viviam. Nem existem festivais como Woodstock e com aqueles apelos todos de protesto. Hoje, os jovens ocupam-se com outras coisas e existem muito mais opções de distração. E este distrair-se pode ser perigoso. Pois, novamente, mergulha-se num sonho ( alegre ou triste ), e tornam-se escravos. E voltar pra realidade é uma outra questão. Esta realidade discutida em Easy Rider nos faz, de fato, analisarmos como é estar diante da nossa realidade nos tempos atuais. Conviver com isto e ter consciência. Imagino que Dennis Hopper pensou também em questões políticas ao dirigir este filme. E o tema, mesmo depois de 30 anos, continua pertinente e atual. Jack Nicholson ganhou um prêmio como ator coadjuvante e interpreta um personagem carismático e louco : George. Além de bêbado e de usar um terno menor que o teu tamanho, só mete em roubadas. É um caipira que resolve enturmar com dois motoqueiros sem destino. Novamente, a questão da ingenuidade que é marcante na juventude, por conta da falta de conhecimento, da base, e dos estímulos para jogar-se no desconhecido. Que é outra questão pertinente ao mundo jovem. A maneira como o filme acaba é sinistro. Isto é, a vida dos protagonistas ser influenciada tragicamente por um choque cultural. Exatamente, pelo preconceito ao confrontar-se com as culturas do interior estadunidense. E não é só por isto. Como é metafórica, então, o que acabou foi o sonho da liberdade. Ninguém está livre. E isto é sufocante como desfecho do filme. Ou da vida ?