terça-feira, 18 de setembro de 2007

Belo Belo (Manuel Bandeira)

“Belo Belo”


Belo belo belo,

Tenho tudo quanto quero.

Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo — que foi? passou — de tantas
[ estrelas cadentes.

A aurora apaga-se,

E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.

O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.

Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.

Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.

As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.

Não quero amar,

Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.

Análise do poema :

Seria arriscado comentar a presença de uma temática narcisista neste poema. Porém, temos um assunto muito mais associado a juventude. Pelos estudos, entendo que Bandeira retoma a estes temas e conceitos : a abordagem de sua juventude. Existe uma certa nostalgia presente que nos faz acompanhar Bandeira para sua terra onde nasceu, em Recife. Exatamente por aproximarmos desta fase.
Existe na poesia de Bandeira uma predisposição muito grande para a vida cotidiana, como afirmou Mário de Andrade ( Aspectos, pg 31 ). Esta é uma característica que marca muito seus poemas, de uma pessoa observadora, que senti e traduz momentos simplistas em versos. Belo Belo traz uma aceitação de um universo perfeito, um sistema igualitário, onde não é preciso muitos esforços. Não é necessário lutas e disputas. Apenas o prazer em sentir as coisas simples da vida. Novamente, o poeta reafirma sua visão de um mundo mais justo dentro desta visão utópica que vemos estudando nos seus poemas. Esta característica de poemas mais ligados ao cotidiano do homem, humano, reafirma sua marca, sua poesia que foge então de temas filosóficos demais. Por Bandeira ter uma visão mais amarga da vida, desta preocupação deste muito cedo com temas fortes e obscuros como a morte, então, traz em Belo Belo a vontade em exprimir um universo ideal, desta juventude que renega as coisas ruins e deseja o mais belo, o mais sublime dos momentos simplistas. Fica nítido sua característica de observador na maneira como imprime seus versos, arte dos seus pensamentos e idéias, que vem exprimir sua maneira de enxergar o mundo e os fenômenos tão importantes como vinham sendo estudados na sua época. Belo Belo é uma homenagem a uma época e período de nostalgias, de alumbramentos, de emoções, de um momento esperado, idade projetada dentro de uma perspectiva de vida e um modelo. Bandeira sempre acreditou que iria morrer, no início acreditava que morreria cedo e depois levou toda uma vida inteira. Escolhe, então, uma temática voltada para uma juventude querida, uma antítese de um período existencial do homem como sendo uma fase ideal e que para por ali, ou um estilo de vida desejada. É muito nítido esta expressão para criar este modelo idealizado de vida. Por ter sua saúde comprometida deste adolescente, onde vive praticamente comprometido com tratamentos pela sua tuberculose. Onde surge a perseguisão e medo da morte. E onde volta pra temas humildes. Como a morte não vem, ele passa a ater-se a temas cotidianos, aonde surge material para criação de suas poesias. E nesta sua vida tediosa ele vai buscar maneiras de escrever metaforizando com estes universos utópicos, de uma vida ideal.


_umberto.alitto

2 comentários:

Thiago Gomes disse...

Adorei a análise ficou ótima.Parabéns e continue postando mais trabalhos como estes.

Unknown disse...

Essa análise me ajudou a compreender melhor o poema. Parabéns!!!